SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O aplicativo de vídeo chamadas Zoom, que viu seu número de usuários diários no mundo disparar de 10 milhões para 200 milhões em meio à pandemia do novo coronavírus, tem vulnerabilidades que expõem centenas de milhares de vídeos de seus usuários na internet, segundo reportagem do Washington Post.
O jornal americano diz ter tido acesso a vídeos privados da plataforma como uma videoaula de depilação genital com uma modelo nua, sessões de psicoterapia e teleconferências de trabalho.
De acordo com o texto, muitos dos vídeos parecem ter sido gravados por meio do Zoom e salvos na nuvem em servidores do software sem necessidade de senha para o acesso.
Essa não foi a primeira falha de segurança do programa a ser revelada. Na última quinta-feira (2), o jornal The New York Times afirmou que um recurso de mineração de dados na plataforma permitia que participantes das vídeo chamadas acessassem dados do perfil de LinkedIn de outros usuários de maneira oculta.
Reportagem do The Intercept também disse, em 31 de março, que os vídeos do Zoom não são criptografados de ponta a ponta entre os participantes de uma vídeoconferência, e que a empresa pode visualizar as sessões.
Antes, em 30 de março, o escritório do FBI em Boston emitiu um aviso sobre o Zoom que dizia aos usuários para não tornar públicas as reuniões na plataforma e não compartilhar links amplamente.
O alerta foi dado depois que o órgão americano recebeu dois relatos de indivíduos não identificados invadindo aulas digitais de escolas, um fenômeno conhecido como "zoombombing".
Entre os exemplos citados pelo FBI, uma estudante do ensino médio de Massachusetts contou que um professor interrompeu a aula quando um desconhecido apareceu em sua tela "gritando insultos e dizendo o endereço pessoal do professor".
Nas redes sociais, com a hashtag #zoombombed, os usuários relatam, por exemplo, como subitamente surgiram imagens pornográficas ou racistas em suas telas durante as videoconferências.
A procuradoria-geral do estado de Nova York enviou uma carta ao Zoom na qual questiona que medidas a empresa toma para garantir a privacidade dos usuários, segundo a agência de notícias AFP.
O escritório do FBI em Boston informou na última segunda-feira (30) ter recebido "vários exemplos de teleconferência perturbadas por imagens pornográficas, de ódio ou de linguagem ameaçadora", segundo um comunicado.
A plataforma teve grande adesão de empresas para reuniões virtuais quando medidas de isolamento social passaram a ser adotadas de maneira sistemática em todo o mundo.
Também é grande o número de escolas que usam a plataforma para dar aulas a distância. Até o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já usou o aplicativo para reuniões.
Em meio aos questionamentos sobre o Zoom, a empresa de foguetes SpaceX, do bilionário Elon Musk, proibiu seus funcionários de usar o aplicativo devido a "preocupações significativas de privacidade e segurança" sobre o software.
No dia 1º de abril, o fundador do Zoom, Eric Yuan, disse reconhecer "que não atingimos as expectativas de privacidade e segurança da comunidade --e a nossa".
O Zoom afirmou à agência de notícias AFP "levar muito a sério a vida privada, a segurança e a confiança dos seus usuários".
"Trabalhamos 24 horas por dia para garantir que os hospitais, universidades, escolas e outras empresas possam estar conectadas e funcionando. Apreciamos o interesse da procuradora-geral de Nova York por essas questões e estamos felizes de lhe entregar as informações requeridas", disse uma porta-voz do Zoom.