BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em meio aos rumores de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, pediria demissão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta segunda-feira (27) que seu auxiliar é o "homem que decide economia".
"O homem que decide economia no Brasil é um só, chama-se Paulo Guedes. Ele nos dá o norte, nos dá as recomendações e o que nós realmente devemos seguir", disse Bolsonaro após uma reunião no Palácio da Alvorada com Guedes, com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, com o chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da CGU (Controladoria-Geral da União), Wagner Rosário.
Nos últimos dias, surgiram rumores de que Guedes poderia deixar o governo. Como mostrou a Folha de S. Paulo no sábado (25), o ministro partiu para o ataque contra Rogério Marinho, ex-secretário especial de Previdência e Trabalho e ministro do Desenvolvimento Regional. Eles eram aliados.
Contrariado com o que chama de deslealdade, Guedes alertou Jair Bolsonaro e o ministro Braga Netto (Casa Civil) para o fato de que o programa Pró-Brasil não sairá do papel. O plano não avança pelo menos da forma como foi apresentado.
Durante os cerca de 15 minutos em que ele, Bolsonaro e outros ministros falaram com os jornalistas, Guedes deu uma série de recados aos defensores do programa.
"Naturalmente, o presidente já está olhando para o futuro e nos pediu, a todos, estudos. O chefe da Casa Civil, general Braga Netto, a função dele é coletar estes estudos porque ele é um coordenador das ações. Ele coordena as ações e integra as ações dos ministérios. Da mesma forma que ele integra estas ações, a conta vem para a Economia, o orçamento é com a Economia", afirmou o ministro.
O ministro disse que o país sairá da crise, e reafirmou "a todos que acreditam na política econômica que ela segue, é a mesma política econômica".
"Vamos prosseguir com nossas reformas estruturantes. Vamos trazer bilhões em investimento em saneamento e infraestrutura, com reforço na safra, a logística está funcionando e o presidente está coordenando isso".
O ministro da Economia se indignou com as articulações de Marinho. Com a crise do coronavírus, o ex-parceiro de Ministério da Economia, responsável por coordenar a reforma da Previdência, passou a procurar colegas de Esplanada, especialmente militares. Nas conversas, Marinho dizia que era hora da gastança.
A gota dágua, no entanto, foi a proposta de Marinho. O ministro do Desenvolvimento Regional prevê 21 mil empreendimentos, a um custo total de R$ 185 bilhões até 2024.
Desse total, são R$ 157 bilhões em novas obras. A ideia seria complementar o Orçamento do Ministério do Desenvolvimento Regional em R$ 33 bilhões dos quais R$ 7 bilhões a mais neste ano.
Para Guedes, a manobra seria uma tentativa de Marinho de se cacifar ao lado de Bolsonaro e militares. Estariam no horizonte, na visão dele, voos mais altos, como até tomar sua cadeira.
Na sexta-feira (24), o Palácio do Planalto amenizou o conflito com a Economia. Braga Netto, a quem Bolsonaro delegou o Pró-Brasil, reafirmou o compromisso do país com o teto de gastos.
A regra, definida em lei, estabelece critérios para o crescimento das despesas. Elas só podem ser corrigidas pela inflação do ano anterior.
No contexto da pandemia, Guedes entende que parte da agenda liberal teve de ser suspensa para que seja resolvido o problema emergencial do novo coronavírus.
Para isso, ele aceita, por exemplo, os argumentos apresentados pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que pretende aumentar os gastos com obras, mas dentro do teto estabelecido.
"O programa Pró-Brasil, na verdade, são estudos na área de infraestrutura, de construção civil. São estudos adicionais para ajudar nesta arrancada de crescimento que vamos fazer. Agora, isso vai ser feito dentro dos programas de recuperação de estabilidade fiscal nossa. Não queremos virar a Argentina, não queremos virar a Venezuela. Estamos em outro caminho, no caminho da prosperidade, não no caminho do desespero", afirmou nesta segunda.
Questionado sobre a possibilidade de flexibilizar o teto de gastos, Bolsonaro pediu para que Guedes falasse. "Eu não falo pelo Paulo Guedes. Ele é que fala por mim nesta questão", disse o presidente.
"Se faltasse dinheiro para saúde, nós até poderíamos romper [o teto de gastos], mas não é o caso. Estamos no caminho certo. Para quê falar em derrubar o teto, se é o teto que nos protege contra a tempestade?", indagou o ministro.
"O Tesouro não investe, o Tesouro é o caixa. Quem investe é o governo, se decidir. E o governo, sim, aumenta investimentos em infraestrutura. Acabamos de conversar com o ministro Tarcísio, não tem problema nenhum. O que não podemos fazer é justamente Planos Nacionais de Desenvolvimento, como era antigamente, porque a nossa direção é outra. O excesso de gastos do governo corrompeu a democracia brasileira, estagnou a economia brasileira."
Na disputa interna do governo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, saiu em defesa da linha adotada por Guedes.
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Trouxemos a nossa preocupação que é importante manter a disciplina fiscal. É a disciplina fiscal que vai nos manter em curso, que vai fazer com que o país consiga viver com juros baixos e inflação controlada", disse Campos Neto.
No fim da manhã, Bolsonaro foi com assessores até a rampa do Palácio do Planalto e relatou o que considerou efeitos da fala de Guedes na Bolsa de Valores.
"Paulo Guedes falou hoje de manhã, a bolsa já subiu um pouquinho. O dólar, como está?", indagou aos jornalistas.
No fim da tarde, em videoconferência com uma consultoria política, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, também saiu em defesa do equilíbrio fiscal, afirmando que este norte não está perdido.
Mourão disse que, no momento, o governo está tendo que "abrir a bolsa" para intervir na crise do coronavírus, mas que, depois, os fundamentos do equilíbrio fiscal serão retomados.
"Se criou esta visão de que havia um descarte das ideias do ministro Paulo Guedes, quando isso não é verdade", afirmou Mourão.
O vice-presidente disse que é preciso estudar a localização das obras a serem feitas levando-se em conta a situação regional e a real necessidade de um empreendimento.
"Este é o trabalho que vem sendo feito pelo Ministério da Infraestrutura, pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. Mas dentro dos limites da nossa capacidade. Porque senão vamos terminar pior do que o governo da presidente Dilma", disse.
Para Mourão, a retomada da economia poderá se dar de forma desigual.
"Não haverá um retorno alinhado na questão econômica. Alguns setores irão avançar mais rapidamente, e outros irão dar uma patinada", afirmou.