WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Relatório divulgado nesta terça-feira (14) pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) mostra que o sistema financeiro global foi impactado de maneira sem precedentes pela pandemia do novo coronavírus e que o aprofundamento da crise representa uma ameaça à sua estabilidade.
Desde fevereiro, quando mercados financeiros começaram a perceber que o novo vírus avançaria pelo mundo e causaria uma recessão profunda, os preços dos ativos de risco despencaram mais do que na crise financeira de 2008-2009, os custos de empréstimos escalaram e os mercados emergentes se tornaram o principal -mas não o único- alvo da volatilidade.
Diante do cenário nebuloso, avalia o FMI, um aperto adicional na crise pode expor as instituições financeiras e, para evitar danos mais graves, é preciso que haja resposta política dos países, com atuação de frente dos bancos centrais, juntamente com uma cooperação internacional.
A combinação do quadro de perdas também foi inédita para as economias mais frágeis: pandemia, queda do preço do petróleo, aumento da aversão ao risco global e perspectiva de recessão econômica no mundo todo. Esses fatores fizeram despencar os preços das ações nos mercados emergentes produtores de commodities, como Brasil, Colômbia, México e África do Sul.
O declínio da produção, diz o Fundo, somado ao aumento repentino nos custos de empréstimos, pode prejudicar mais justamente essas economias, que têm mais limitação no espaço fiscal, necessidade de financiamento ou vulnerabilidade de financiamento externo.
Desde o ano passado, investidores estrangeiros olham com cautela para o mercado brasileiro e esperavam as reformas refletirem nos índices econômicos para investirem de fato no país. No início de 2020, ainda antes da pandemia eclodir, os donos do dinheiro estavam pessimistas, avaliando que, após a reforma da Previdência, não havia nada no horizonte capaz de mudar os números no Brasil.
No fim de 2019, o FMI previa um crescimento de 2% no PIB brasileiro em 2020. Com a pandemia, a retração brasileira é esperada na casa dos 5,3%, enquanto a economia global deve cair 3% -na pior recessão desde a Crise de 1929, de acordo com o Fundo.
As medidas de isolamento e distanciamento social para conter o vírus -que desencadearam uma série de demissões, redução das atividades e da produção em todo o mundo- causaram essa retração econômica forte e inevitável, mas ainda há uma grande incerteza sobre sua severidade e duração.
O primeiro capítulo do documento intitulado "Relatório Global de Estabilidade Financeira" -os demais devem ser publicados nas próximas semanas- indica que a crise deste ano atingiu até mesmo sistemas considerados fortes e seguros, como o Tesouro dos EUA.
Na avaliação do FMI, os bancos centrais têm sido fundamentais para segurar parte dos danos, a medida que facilitam a política monetária e fornecem liquidez ao sistema financeiro, inclusive por meio de linhas de swap em moeda estrangeira para manter o fluxo de crédito na economia.
"Essas políticas são essenciais para garantir que um desligamento temporário da produção não leve danos permanentes à capacidade produtiva da economia, ao sistema financeiro e à sociedade", afirma a parte inicial do documento, assinada pelo economista do FMI Tobias Adrian.
Os bancos centrais de países desenvolvidos, como os EUA, cortaram os juros a patamares históricos e mesmo parte das instituições de nações emergentes ou em desenvolvimento adotaram medidas desse tipo.