Quem caminha pelas ruas de Gramado, na Serra, anda apressado, olhando para o chão, indiferente às belezas da cidade. Está na cara que não são turistas. Estes, aliás, estão em falta na região. Sem viajantes posando para fotos, de longe se enxerga os termômetros espalhados pela cidade marcando 19ºC nesta sexta-feira (17). A rua coberta, ponto gastronômico de Gramado, só não estava às moscas porque alguém sempre para ali para se abrigar da chuva.
O que não está na cara em Gramado são as máscaras. Tirando os funcionários de lojas e restaurantes, todos com bocas e narizes protegidos, poucos eram os moradores que seguiam a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
— Estou me cuidando dentro do possível. Lavo bem as mãos e até protejo o rosto com máscara caseira, mas hoje esqueci. Saí preocupada com as contas que tenho de pagar e a deixei em casa — justifica a atendente de hotel Margarida Felim.
A impressão transmitida pelas ruas é confirmada pelo secretário de Turismo, Rafael Carniel de Almeida. Não há turistas. Nem há mobilização da prefeitura para atraí-los pelas próximas semanas.
— Nosso maior patrimônio é a população e nossos turistas. Queremos que eles fiquem bem, em casa, agora — diz.
Os hotéis estão fechados desde o dia 21 de março e assim devem continuar pelo menos até o fim deste mês. Um decreto impede a retomada das atividades. Os empresários tentam não demitir reduzindo carga horária, dando férias e utilizando todos os artifícios legais, mas nem sempre é possível. O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Hoteleiro e Similares de Gramado, Rodrigo Callais, disse que nos últimos 12 dias, 235 rescisões foram homologadas. E assegura que esse número está subestimado, pois demissões de pessoas com contratos inferiores a seis meses não precisam ser validadas no sindicato.
Timidamente, o comércio reabre para os residentes locais. Depois de quase 30 dias fechadas, as lojas novamente puderam receber clientes nesta sexta, mas sem pessimismo. O lema é sair da crise melhor do que quando entraram. A cidade parece ter assimilado bem a importância das medidas tomadas até aqui e comemora ter chegado a meados de abril sem casos confirmados de coronavírus entre moradores — a não ser duas turistas de São Paulo que estavam na cidade, mas que não contraíram o vírus na Serra. A esperança se renova para o segundo semestre. Uma série de novas atrações é preparada para atrair visitantes — sobretudo, os gaúchos.