Desde 1997, quando o mecanismo de circuit breaker foi estabelecido na bolsa brasileira, ele foi acionado pelo menos 17 vezes, a maioria delas em períodos de crise. O circuit breaker interrompe as negociações na bolsa de valores quando a queda do principal índice acionário do país, o Ibovespa, supera 10%. Durante a interrupção, não há possibilidade de fechamento de negócios com ativos, derivativos e títulos de renda fixa privada.
Nesta semana, foi acionado nesta segunda-feira (9), logo na abertura dos negócios. O avanço do coronavírus e a guerra de preço do petróleo derreteram o mercados de ações nesta sessão, na qual a bolsa brasileira fechou na pior queda do século, com recuo de 12,17%. Na tarde desta quarta-feira (11), foi acionado novamente em razão da declaração de pandemia do coronavírus.
O circuit breaker se aplica em três situações, de acordo com o Manual de Procedimentos Operacionais da B3:
1. Quando o Ibovespa desvalorizar 10% em relação ao fechamento do pregão anterior, a negociação é interrompida por 30 minutos
2. Reabertas as negociações, caso a queda do Ibovespa atinja 15% em relação ao fechamento do pregão anterior, a negociação é interrompida por uma hora
3. Reabertas as negociações, caso a oscilação negativa atinja 20% em relação ao pregão anterior, a B3 pode determinar a suspensão da negociação por período a ser definido pela bolsa
Não há acionamento do mecanismo nos últimos 30 minutos do dia. Se a interrupção ocorrer na última hora, o horário de encerramento da bolsa é prorrogado por até 30 minutos para reabertura e negociação ininterrupta dos ativos e dos derivativos.
Veja outros pregões em que o circuit breaker foi acionado
1997 — Crise na Ásia
Em 1997, países do sudeste e nordeste asiático enfrentaram crise financeira que interrompeu o crescimento econômico e se estendeu ao plano político, com a queda de governos. Nos anos seguintes, contaminou outros países emergentes, como Rússia, Brasil e Argentina, tornando-se a primeira crise da era das finanças globais. O fenômeno foi disparado por processo de fuga de capital e deflação de ativos financeiros das economias da região. Ao todo foram três vezes que o circuit breaker foi acionado no Brasil.
- 28 de outubro: bolsa fechou em queda de 6,42%, após despencar 12,76%
- 7 de novembro: bolsa fechou em queda de 6,38%, após despencar 10,43%
- 12 de novembro: bolsa fechou em queda de 10,20% , após despencar 10,77%
1998 — Crise na Rússia
Em 1998, a Rússia viveu o reflexo da crise asiática do ano anterior. Com isso, o mercado financeiro russo teve fuga de capitais, bancos em crise, e queda do preço do petróleo, principal fonte de moeda forte para o país. Em apenas um ano, a bolsa brasileira foi interrompida quatro vezes. O governo russo, com menos recursos, se viu sem condições de pagar dívidas externa e interna. Não tinha recursos para pagar salários de funcionários públicos, militares e manter serviços estatais, como hospitais.
- 21 de agosto: bolsa fechou em queda de 2,85%, após despencar 10,02%
- 4 de setembro: bolsa fechou em queda de 6,13%, após despencar 13,90%
- 10 de setembro: bolsa fechou em queda de 15,82% , após despencar 16%
- 17 de setembro: bolsa fechou em queda de 4,84%, após despencar 10%
1999 — Desvalorização do real
No Brasil, o regime de câmbio flutuante foi adotado logo após a maxidesvalorização do real, ocorrida em janeiro de 1999. Em dois meses, o dólar disparou 73,6%, pulando de R$ 1,21 para R$ 2,10. A partir de então, o Banco Central abandonou o regime de bandas cambiais, que mantinha o dólar quase fixo, passando a operar em regime de câmbio flutuante. Naquele ano, a bolsa brasileira interrompeu suas negociações duas vezes.
- 13 de janeiro: bolsa fechou em queda de 5,05% , após despencar 10,78%
- 14 de janeiro: bolsa fechou em queda de 9,97%, após despencar 10,09%
2008 — Crise financeira
Nos anos 2000, o mercado imobiliário americano estava aquecido pela alta oferta de crédito. Os financiamentos eram feitos com garantia em imóveis, e bancos repassavam esses créditos como investimentos. No entanto, tomaram crédito pessoas que não tinham como pagar (subprime, ou, de segunda linha, em inglês), gerando calote em série e a queda brusca do preço dos investimentos e dos imóveis. O banco de investimento Lehman Brothers, que negociava esses papéis, faliu em 2008. No Brasil, a bolsa de valores foi interrompida cinco vezes.
- 29 de setembro: bolsa fechou em queda de Fechou em 9,36%, após despencar 13,82%
- 6 de outubro: bolsa fechou em queda de Fechou em 5,43%, após despencar 15,50%
- 10 de outubro 2008: bolsa fechou em queda de 3,37% , após despencar 10,36%
- 15 de outubro: bolsa fechou em queda de 11,39%, após despencar 14,81%
- 22 de outubro 2008: bolsa fechou em queda de 10,18%, após despencar 10,28%
2017 — Joesley Day
Em 2017, veio a público a informação de que o empresário Joesley Batista gravara conversa com o então presidente Michel Temer (MDB). Naquele dia, a bolsa brasileira foi fechada durante 30 minutos, quando as quedas superam 10%.
- 18 de maio: bolsa fechou em queda de 8,80%, após despencar 10,70%