A corrida aos supermercados para garantir estoques para enfrentar o isolamento elevou os preços dos alimentos em março, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Coleta de preços feita pelo instituto indica que 20 itens presentes na cesta básica tiveram reajuste médio de 1,64% na semana passada, contra 0,19% no início do mês.
— Além do aumento da demanda por alimentos, pois as refeições estão sendo feitas nas residências, houve aumento da estocagem de alimentos por receio de que o vírus se propague mais e expanda o período de confinamento — afirma o economista André Braz, responsável pela pesquisa.
De acordo com a FGV, o arroz subiu 1,74%, contra alta de 1,17% no início do mês. Houve também aceleração no preço dos ovos, que registraram alta de 9,04%, ante 5,04% no início de março. Já o feijão reverteu queda com a maior procura: o carioca saiu de -2,16% para 0,58%, e o preto, de -2,61% para 2,24%. O mesmo aconteceu com a carne bovina, que caía 2,31% e fechou a semana passada em alta de 0,25%.
Braz avalia que a alta é generalizada e que, apesar do aumento na oferta de serviços de entrega de comida, o brasileiro está preferindo cozinhar em casa para economizar. A análise é reforçada pela alta procura por botijões de gás, que fez a Petrobras anunciar nesta segunda (30) um reforço nas importações.
— Como o orçamento das famílias foi afetado pela paralisação do comércio e dos serviços, muitas delas não dispõem de renda para arcar com os custos da alimentação fora de casa —afirmou o economista da FGV.
Na semana passada, empresas que montam cestas básicas para outras empresas ou ONGs já vinham notando aumentos nos preços de alguns produtos, como feijão preto e carioca, cenário que vinha impactando doações para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Um representante de uma dessas empresas disse à reportagem que a venda de arroz de algumas marcas conhecidas estava "fechada", procedimento que costuma preceder reajustes após reavaliação da demanda.
— É a lei da oferta e da procura funcionando. Mas tem um limite. Agora já se conhece a nova demanda e é provável que a gente não sinta aumentos no próximo mês. Até porque a maior parte das pessoas trabalha no setor de serviços é que está sentindo muito a crise — diz o economista.
A expectativa é que, com o eventual achatamento da renda provocado pela suspensão das atividades econômicas, a demanda caia e os preços voltem a ceder. Assim, diz o economista da FGV, o impacto inflacionário será pequeno.
Projeções reduzidas
Na segunda, economistas consultados pelo Boletim Focus, do Banco Central, reduziram suas projeções para a inflação de 2020 de 2,90% na semana passada para 2,67%. Há um mês, as estimativas falavam em 3,20%.
A queda dos preços dos combustíveis deve ter impacto forte sobre a inflação. Desde o início do ano, a Petrobras já reduziu os preços da gasolina e do diesel em 43% e 31%, respectivamente, acompanhando o tombo das cotações internacionais.
Os repasses ao consumidor se aceleraram um pouco na semana passada. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), o preço da gasolina caiu 1,9% na semana. Já o diesel caiu 3,4%. No ano, redução acumulada é de 2,6% e 6,9%, respectivamente.