SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "O trabalhador doméstico não tem ido a Disney a passeio", diz Mario Avelino, presidente do Instituto Doméstica Legal, ao contestar fala do ministro Paulo Guedes sobre domésticas.
"Na verdade, muitas trabalhadoras viajam a trabalho, a maioria são babás, com a passagem custeada por seus empregadores, ganhando adicional de viagem, que hoje é garantido por lei. Ficaríamos felizes se essa fosse a realidade de todos os brasileiros, mas não é", queixa se Avelino.
Na quarta-feira (12), ao comentar o preço do dólar, o ministro da economia Paulo Guedes disse que a moeda com valor alto "é bom para todo mundo" e ao mencionar períodos em que o real esteve mais valorizado, afirmou que empregadas domésticas estavam indo para a Disney, "era uma festa danada", completou.
"Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vamos importar menos, fazer substituição de importações, turismo. [Era] todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada. Espera aí, vai passear em Foz do Iguaçu, vai passear no Nordeste, está cheio de praia bonita, vai para Cachoeiro do Itapemirim conhecer onde Roberto Carlos nasceu. Vai passear, conhecer o Brasil", disse ainda Guedes.
Em seguida, o ministro afirmou que sua fala seria tirada de contexto e reforçou "Não, o ministro está dizendo que o câmbio estava tão barato que todo mundo mundo estava indo para a Disneylândia".
Questionado sobre a fala de Guedes, Bolsonaro respondeu: "pergunta para quem falou isso, eu respondo pelos meus atos".
Após os comentários, Paulo Guedes chegou a ser comparado com Caco Antibes, personagem de Miguel Falabella no seriado "Sai de baixo", famoso por dizer que "tem horror a pobre".
Ao jornal Extra, Falabella comentou a comparação: "Caco Antibes é um personagem psicótico da ficção, que representa o que há de pior na elite brasileira. Ser comparado a ele deveria ser uma vergonha pro ministro. Uma vergonha", afirmou o ator.
Avelino esclarece ainda que apenas há poucos anos, com a PEC das Domésticas, é que as empregadas domésticas passaram a ter os mesmos direitos do trabalhador de uma empresa, e que muitas viviam e ainda vivem na informalidade.
"Deveríamos estar discutindo a volta da dedução do INSS do empregador doméstico. Uma apuração feita por nós aponta que, somente em 2019, 700 mil empregadores utilizaram o benefício. Com o fim da dedução, este empregador perdeu em 2020, aproximadamente R$ 1.250 anuais. Gostaríamos de contar com a ajuda de Guedes, para reverter esse quadro", afirma Avelino.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2018 existiam 6,3 milhões de trabalhadores domésticos no país, mas a taxa de empregados com carteira assinada recuou de 32% para 29%, entre 2015 e 2019.
Procurados pela reportagem, a Federação dos Trabalhadores e Empregadas Domésticas e o Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos da Grande SP não comentaram.