BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Itamaraty afirmou, nesta quarta-feira (15), esperar que o endosso formal dos Estados Unidos ao início do processo de adesão do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) destrave o impasse sobre o ritmo de expansão da entidade.
Formado por 36 países, o chamado clube dos países ricos tem divergido sobre o ingresso de novos integrantes. Enquanto os EUA querem uma ampliação mais restrita, os membros europeus defendem que um número maior de países se incorpore à OCDE.
"O governo brasileiro recebeu com satisfação a notícia de que os EUA apresentaram hoje, ao Conselho da OCDE, proposta de início imediato do processo de acessão do Brasil. Trata-se de passo fundamental para destravar o processo de expansão da organização. Esperamos que todos os membros da organização cheguem rapidamente a um entendimento que permita o início do processo de acessão do Brasil", afirmou o Ministério de Relações Exteriores.
"A posição dos EUA reflete o amadurecimento de uma parceria que vem sendo construída desde o início do governo Bolsonaro, baseada em coincidência de visões de mundo. Trata-se de relação estratégica de longo prazo, que se desenvolve em torno de três eixos principais: valores/democracia, crescimento econômico, e segurança/defesa", concluiu a chancelaria.
Na terça-feira (14), a embaixada dos EUA em Brasília confirmou que o governo Donald Trump decidiu considerar a candidatura brasileira uma prioridade.
Os americanos entregaram uma carta à organização oficializando que querem que o Brasil seja o próximo país a iniciar o processo de adesão à entidade. Na prática, Washington passou a defender que o Brasil ocupe a vaga que era da Argentina na fila de postulantes a ingressar na organização.
"Os EUA querem que o Brasil se torne o próximo país a iniciar o processo de adesão à OCDE. O governo brasileiro está trabalhando para alinhar as suas políticas econômicas aos padrões da OCDE enquanto prioriza a adesão à organização para reforçar as suas reformas políticas", disse a embaixada americana.
Em outubro, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, enviou um documento ao secretário-geral da entidade, Angel Gurria, em que dizia que Washington defendia as candidaturas imediatas apenas de Argentina e Romênia.
A ausência do Brasil naquele documento gerou queixas de que o alinhamento de Bolsonaro com o presidente Donald Trump não estaria trazendo os resultados esperados. Embora a reação negativa no Brasil tenha levado Pompeo a dizer que a carta não representava "com precisão" a opinião americana, a falta de um endosso mais explícito acentuou naquela ocasião as críticas em Brasília contra o alinhamento com os EUA.
Agora, a formalização do apoio foi costurada em Washington justamente para rebater os argumentos de que o Brasil não estaria recebendo nada em troca das concessões feitas aos americanos.
A candidatura do Brasil à OCDE vinha sendo trabalhada desde o governo do ex-presidente Michel Temer e se tornou uma prioridade da atual administração.
Na visita oficial de Bolsonaro a Washington, em março de 2019, Trump afirmou apoiar as pretensões do Brasil. Mas desde então a falta de compromissos mais claros dos americanos e a carta de Pompeo geraram frustrações no governo brasileiro.
Nesta quarta-feira, Bolsonaro comemorou a notícia de que os EUA formalizaram o apoio ao pleito brasileiro.
Na entrada do Palácio do Alvorada, ele disse que se a iniciativa dependesse apenas do apoio pessoal de Trump, o Brasil já teria ingressado na entidade comercial.
"Não posso falar em prazo. Não é apenas do Trump, [se dependesse] do Trump eu já estava lá. Depende de outros países também. E nós estamos vencendo resistência e mostrando que o Brasil é um país viável", disse o presidente.
O Brasil só efetivamente iniciará o trâmite de adesão à OCDE após o aval dos demais membros.
Embora a entrada do Brasil conte com amplo apoio, novos integrantes não devem ser aceitos até que a OCDE conclua a negociação sobre o seu ritmo de expansão.
Mesmo com a solução dessa disputa, o trâmite de entrada na OCDE é longo. Interlocutores no governo disseram à reportagem que o processo brasileiro, depois de iniciado, não deve se concluir em menos de três anos.