A mudança na regra do crédito imobiliário da Caixa anunciada na noite de quinta-feira (15) pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, pode levar a um aumento na procura por financiamento e incentivar a competição entre entidades de crédito, segundo especialistas ouvidos por GaúchaZH.
Na semana que vem, a Caixa deve lançar um novo cálculo na concessão de crédito imobiliário, que passaria a ter seu custo indexado ao IPCA, índice que mede a inflação. A medida pode levar a uma redução de até 31,5% no juro dos financiamentos, se considerada a inflação projetada pelo IBGE para este ano de 3,82%, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
— Naturalmente, os outros bancos terão de seguir (a nova regra da Caixa), caso contrário não vão conseguir emprestar. Se alguém cobra menos e outro cobra mais, as pessoas vão escolher quem cobra menos — avalia Adriano Severo, educador financeiro do GuiaInvest.
Uma consequência da medida seria um aquecimento no setor da construção civil, na opinião do planejador financeiro Rafael Pires, da Associação Planejar:
— Como a Caixa provê de 70% a 80% dos financiamentos (imobiliários) no Brasil, essa medida tende a aumentar a carteira de imóveis. Quando temos uma redução na taxa, a procura aumenta, e as construtoras acabam vendendo mais — defende.
Os especialistas consideram a mudança benéfica para o tomador de crédito, mas alertam que o custo pode ser afetado por um eventual aumento na inflação a longo prazo:
— Acho improvável, pois a expectativa é a economia ficar controlada, e a inflação, baixa, mas é importante alertar para esse risco. É um cenário difícil de ocorrer, mas não impossível — afirma Severo.
Essa hipótese aumenta a importância de o tomador de crédito referenciado no IPCA proteger suas economias do efeito da inflação, segundo Pires:
— Se a inflação subir, com certeza vai impactar as pessoas se elas não tiverem um título público (indexado à inflação) que a proteja na outra ponta. Na medida em que sobe o custo do dinheiro, elas terão de buscar um consultor de investimento, investir mais o dinheiro, deixar de gastar agora e programar mais os gastos futuros.
Independentemente da taxa praticada, a compra de um imóvel deve ser cuidadosamente planejada para evitar dissabores, ressalta Severo:
— Já atendi pessoas que foram morar sozinhas ou se juntaram com alguém em um apartamento de um quarto e, depois de cinco anos, tiveram filhos e precisaram se mudar. Só que ainda estavam pagando o imóvel. O ideal é projetar os próximos cinco ou 10 anos de sua vida para avaliar se faz mais sentido comprar ou alugar.