SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Das principais datas comemorativas do ano, Dia dos Pais é uma das que menos gera expectativa para o varejo, sobretudo quando comparada ao Dia das Mães, dizem especialistas.
A configuração das famílias brasileiras, com pais ausentes ou menor poder aquisitivo das mães, dizem economistas, influencia no desempenho comercial da data que homenageia a figura paterna.
De acordo com Celina Ramalho, professora de economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), as vendas refletem tendências da sociedade.
"Existe uma situação social para levar em conta no Dia dos Pais, que é a falta dessa figura nos lares. Muitas famílias não comemoram a data e, portanto, não compram presentes," afirmou ela.
Como exemplo desse retrato, a professora mencionou os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios, do IBGE) de 2018. Segundo o estudo, 45,3% dos domicílios do país são chefiados por mulheres. A porcentagem representa 32,2 milhões de famílias do total das 71 milhões registradas no Brasil pelo levantamento.
Na pesquisa, critérios como relação social, ausência paterna ou poder econômico foram usados pelos parentes que atribuíram às mulheres o papel de líder.
"É normal ter muitas crianças que só conhecem a mãe e que são criadas por ela", disse também Flávio Calife, economista do birô de crédito Boa Vista. Características da estrutura familiar, de acordo com ele, afetam a análise sobre o Dia dos Pais.
Para Marcel Solimeu, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), as comemorações mais importantes para o varejo são Natal e Dia das Mães. "São datas mais abrangentes e que contemplam vários setores, o que aumenta a possibilidade de produtos vendidos", disse ele.
Essa diferença de desempenho do comércio no Dia das Mães e no Dia dos Pais, para Ramalho, está relacionada ao comportamento do consumidor.
Segundo a professora, a cultura de consumo para homens ainda é mais restrita do que a para mulheres. "Mães ganham itens pessoais, mas também são associadas a presentes para a casa. E por que esses produtos não podem ser dados aos homens?"
Mesmo que o pai participe do convívio familiar, Luís Augusto Ildefonso, diretor de relações institucionais da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping) afirmou que "a emotividade ligada ao Dia das Mães é maior". Filhos também tendem a gastar mais com presentes para as mães, de acordo com o diretor.
Além disso, Calife atribui menores vendas no Dia dos Pais, em relação a outras datas expressivas, à predominância de homens com maior poder aquisitivo do que suas companheiras.
Segundo ele, em muitas famílias os pais ainda são financeiramente responsáveis pelos gastos. Assim, optam por economizar ao bancar os próprios presentes ou por não ganhar as lembranças.
O aumento da relevância da Black Friday no Brasil tem feito com que consumidores guardem dinheiro desde o começo do segundo semestre, disse Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomercio-SP. A comemoração costuma ser na segunda metade de novembro.
"Apesar de ter promoções em vários segmentos, a Black Friday tem o foco voltado para eletrônicos e bens duráveis. As pessoas têm deixado de gastar em outros momentos, para fazer compras maiores nessa data", afirmou Carvalho.
A Boa Vista projeta que as vendas deste Dia dos Pais tenham crescimento de, no máximo, 1,5% na comparação com o ano anterior. Em 2018, o aumento foi de 2,8%, em relação a 2017, de acordo com dados da empresa. Os números refletem a lenta recuperação da economia brasileira.
A previsão segue a tendência de menor crescimento das datas comemorativas no primeiro semestre, quando comparado ao mesmo período em 2018.
Neste ano, as vendas no Dia das Mães aumentaram 1,7%, menos do que os 4% registrados em 2018, diante do comércio de 2017. O crescimento do Dia dos Namorados passou de 2,2%, no ano passado, para 1,4% neste ano.