Um dia após anunciar resolução que busca abrir o mercado de gás natural no País, o ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque afirmou que não vai ser por meio de decreto que o preço do combustível vai cair. Ele disse ainda desconhecer incentivos fiscais ou financeiros para que Estados adotem as ações recomendadas pelo governo.
Segundo o ministro, o governo já conversou com 11 Estados sobre a proposta. Bento Albuquerque, no entanto, disse desconhecer qualquer iniciativa no sentido de oferecer incentivos fiscais ou financeiros aos Estados que decidirem privatizar a distribuição do gás.
— Desconheço incentivo e transferência de recursos de plataforma para Estados que aderirem. É uma questão fiscal e deve estar sendo tratado pelo ministério da Economia, que tem as atribuições e competências para isso. Mas não pelo Ministério de Minas e Energia, nem foi fruto de resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
O jornal Estado de S.Paulo afirmou que a União estuda transferir de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões por ano aos Estados que privatizarem suas empresas de distribuição de gás, recursos que viriam do Fundo Social do Pré-Sal. As informações, entretanto, não foram confirmadas pelo ministro.
Mais cedo, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, o secretário de infraestrutura do Rio Grande do Sul, Artur Lemos, comemorou a decisão do governo.
— Durante 24 anos, o fornecimento de gás foi restrito à Serra e Região Metropolitana. A ampliação tem que vir de locais diversos: gás natural liquefeito via Rio Grande, ou outra ponta de entrada, pelo litoral, e a própria gaseificação do carvão. Tudo isso é estudado. Você fomentar a entrada de múltiplos fornecedores de gás vai fazer com que o Estado amplie sua participação neste insumo, que é um dos mais utilizados. Nossa previsão é de que esse gás, tendo múltiplos fornecedores, tenha redução no preço — disse o secretário.
"Preço não vai cair por decreto"
O ministro Bento Albuquerque participou nesta terça-feira (25) de audiência pública na Comissão de Serviços de infraestrutura do Senado para apresentar aos parlamentares as ações com as quais o governo pretende acirrar a competitividade do setor de gás e baixar o preço do combustível.
Na segunda-feira, o ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que o preço poderia cair em torno de 40% em até três anos caso as diretrizes do governo fossem adotadas. Aos senadores, Bento Albuquerque afirmou que não vai ser "por decreto" que isso vai acontecer.
— E nós temos exemplos clássicos e até recentes de que quando se tentou fazer isso, o custo foi muito maior depois. A conta foi muito cara — afirmou.
O ministro criticou ainda as altas do gás nos últimos anos.
— Não é possível que nosso preço do gás tenha subido quatro vezes em dez anos, com as condições que nós temos, novos descobrimentos e exploração. Não tem explicação — disse.
A proposta lançada pelo governo tem como pilares básicos a redução da concentração na oferta, a desverticalização da cadeia e liberação da capacidade em gasodutos de transporte para terceiros e mudanças na regulação da distribuição de gás canalizado para permitir maior competição pelos clientes.
Quebra do monopólio da Petrobras
Com o programa anunciado na segunda (24), o governo quer quebrar o monopólio da Petrobras na oferta do combustível ao garantir acesso de outras empresas a gasodutos e terminais de importação de gás natural. Nesta quarta-feira, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deve avaliar acordo para que a Petrobras venda participações no setor.
Após lembrar que a quebra do monopólio da Petrobras já ocorreu há mais de 20 anos, o ministro disse que o governo procura aumentar a competitividade e a oferta do gás, "porque isso naturalmente vai levar a investimentos e vai levar à redução da molécula do gás".
Na audiência, o ministro afirmou que caberá ao Congresso aperfeiçoar o arcabouço legal para que as ações que abrem o mercado de gás sejam implementadas.
— Nossos instrumentos já existem, aperfeiçoamento da legislação sempre é possível, e é isso que eu considero que é uma importância, daí eu considerar ser vital a participação do Congresso Nacional no aperfeiçoamento dessa legislação, porque como nós dissemos, esse trabalho que foi feito — disse.
O governo estima que o fim do monopólio do mercado de gás natural possa gerar investimentos de até R$ 32,8 bilhões em ampliação da infraestrutura de transporte e escoamento do combustível. Além disso, vê incremento de R$ 2 bilhões na arrecadação de royalties e R$ 5,3 bilhões no ICMS por ano em quatro estados beneficiados.
Atualmente, embora tenha posse de 75% do gás produzido no Brasil, a Petrobras é praticamente a única vendedora, já que suas sócias o pré-sal não têm acesso a infraestrutura para escoar suas parcelas - um dos focos do programa é garantir acesso de terceiros aos gasodutos de escoamento e unidades de processamento. Simulações do governo estimam que se o preço da energia cair 40%, o PIB industrial aumentaria 8,46%.