Na contramão do país, o Rio Grande do Sul contratou mais do que demitiu em março. O Estado abriu 2.439 vagas de emprego formal no mês, resultado de 105.841 admissões e 103.402 desligamentos.
No acumulado do ano, com três meses no positivo, o Estado tem saldo de 37.958 novos postos de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pela Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia na manhã desta quarta-feira (24). O RS ficou com a quarta melhor variação entre os Estados.
A indústria da Transformação lidera entre os setores no Estado, com +6.180 postos. Na sequência, figuram Comércio (+1.163) e Serviços (+85). Na parte de baixo da lista, o resultado negativo mais expressivo ficou com a Agropecuária (-3.107 vagas), e com a Construção Civil (-1.784).
Entre os municípios, Santa Cruz do Sul (+3.328) e Venâncio Aires (+1.392), no Vale do Rio Pardo, registraram os melhores resultados e março. Porto Alegre amargou o segundo pior resultado entre as cidades gaúchas, com fechamento de 1.459 postos. A Capital perdeu apenas para Vacaria (-3.150), na Serra.
Sazonalidade explica mau resultado no campo
Coordenador do Observatório Trabalho, Gestão e Políticas Públicas, da Unilasalle, o professor Moisés Waismann entende que o saldo positivo no Estado no período é sazonal em razão da geração de emprego em indústrias como a do fumo e a do couro, que contratam mais no período em meio ao ciclo de produção. Na outra ponta, Waismann explica que a agropecuária figura como o pior setor em razão do fim da safra de algumas culturas.
— Tradicionalmente, nos meses de janeiro e fevereiro, na contramão de tudo que acontece, o setor da agropecuária cresce excepcionalmente aqui no Rio Grande do Sul, puxado pela grande região de Vacaria em razão da safra da maçã. Só que está terminando a safra — explicou.
Para os próximos meses, Waismann diz que torce por uma estabilidade, mas não acredita nesse cenário positivo, pois a tendência é de que o setor empresarial pise no freio na questão de investimentos.
— Hoje, resta saber se nós, enquanto indivíduos e famílias, estamos dispostos a fazer uma prestação de três ou quatro vezes. A resposta é não. Se a resposta é não, imagina isso voltando para trás. O comércio percebendo esse não, as encomendas diminuem e a indústria freia também — analisou o professor.
Antonio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul (Federação da Agricultura do Estado), também afirma que o mau resultado na agropecuária é sazonal.
— Isso é época de colheita. O fim de um ciclo. Então, nesse estágio é normal um saldo negativo, assim como nos meses de julho, agosto e setembro a gente vê dados super positivos no setor. São dados sazonais, normais. Todo ano é assim.
Além da sazonalidade do período, o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, aponta o provável "entusiasmo" dos empresários nos primeiros meses do ano com a previsão de retomada da economia para explicar o aumento das atividades no setor. Petry analisa que o desempenho de geração de emprego nos próximos meses vai estar diretamente atrelado ao andamento das reformas do governo em Brasília, principalmente a da Previdência:
— Quando o governo recua um pouco, o empresário também recua, esperando para ver.
Pior março desde 2004
Na série histórica, desde 2004, esse foi o pior saldo para o mês de março no Rio Grande do Sul. Comparado ao mesmo período do ano passado, a diferença entre contratações e demissões em março de 2019 é 80,7% menor.