A diarista Rosimar Silva de Oliveira, 52 anos, já perdeu a conta de quanto encareceram os legumes nas últimas semanas. Cozinheira daquelas que não deixa a mesa sem uma boa salada, faz malabarismo para comprar cebola, batata e alface sem esticar demais a conta. Para evitar peso demasiado no bolso, tem preferido ir a mercados em dias de promoção, e compara com lupa os valores.
– Cada vez que chegamos ao supermercado, o preço subiu um pouco mais – constata.
A impressão dela está dentro da realidade, mostram os números. Na cesta formada pela Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), com dados coletados pelo Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (IEPE) da UFRGS em Porto Alegre, alguns hortifrúti tradicionais da salada do gaúcho galoparam de preço no mês de março.
O quilo médio da batata passou de R$ 3,38 para R$ 4,08 – disparada de 20,7%. A cenoura subiu 13,8%, patamar próximo ao do tomate. Alface e cebola também fizeram lacrimejar o consumidor mais preocupado com o bolso.
– O tomate, em particular, está muito caro. Em alguns supermercados chega a quase R$ 10. Pior é que é um ingrediente usado em muitas receitas, difícil de substituir – percebe o aposentado José Renato Amaral da Silva, 72 anos.
Pesquisa
Morador da zona norte da Capital, em uma área próxima a três grandes redes, aproveita a logística favorável para pesquisar preços nos supermercados. Quando encontra uma boa oferta aliada à qualidade, garante a salada do dia.
A alta quase generalizada dos hortifrúti está associada ao excesso de chuvas nos campos gaúchos e também à safra ruim em outros Estados. Conforme Claiton Colvello, gerente-técnico das Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa-RS), em março as chuvas foram intensas nas lavouras e prejudicaram a colheita. Com isso, a oferta caiu e o preço subiu.
– Nas regiões Sudeste e Nordeste do país também houve problemas nas safras, e os distribuidores vieram buscar aqui no Estado frutas e legumes, pressionando ainda mais os preços – explica.
Na projeção de Colvello, a estabilidade climática neste mês poderá normalizar a produção no Rio Grande do Sul, evitando que os preços subam ainda mais. Enquanto os valores seguem indigestos, o consumidor pode redobrar o cuidado com a pesquisa, mesclando visitas à feira e aos supermercados, e também tentar aproveitar ao máximo os legumes _ o que nem sempre acontece.
– As pessoas descartam as folhas, o talo e a casca dos legumes, que são ricos em fibra, enquanto poderiam utilizá-las em outras receitas – observa a professora e nutricionista da Faculdade Senac Porto Alegre Antônia Cunha.
Variação de preços nas últimas quatro semanas em Porto Alegre (1ª semana de março/ 4ª semana de março / variação)
Alface
R$ 2,06 / R$ 2,23
+ 8,3%
Por que subiu?
Tem ciclo de produção curto, e em março coincidiu com sol intenso que reduziu a oferta.
Batata inglesa
R$ 3,38/ R$ 4,08
+ 20,7%
Por que subiu?
A safra das últimas semanas coincidiu com intensas chuvas, prejudicando o trabalho do maquinário na colheita.
Cebola
R$ 4,01/ R$ 4,44
+ 10,7%
Por que subiu?
Parte da produção de perdeu no Estado em razão do excesso de chuvas e teve de ser replantada.
Cenoura
R$ 3,85/ R$ 4,38
+ 13,8%
Por que subiu?
Houve problema na colheita de Minas Gerais, que costuma ser volumosa, e compradores buscaram em outros Estados, incluindo o Rio Grande do Sul.
Tomate
R$ 4,76/ R$ 5,38
+13%
Por que subiu?
A chuva prejudicou a qualidade do produto nesta safra, e ainda houve pressão nos preços em razão da venda para outros Estados.
Fonte: Cesta Agas/Ceasa-RS
Economize na compra
- Pesquise em mais de uma rede de supermercado e também em feiras de bairro para encontrar o melhor preço.
- Os mercados costumam ter dias de promoção nas frutas, legumes e verduras, mesmo em tempos de alta nos preços, então prefira visitá-los nestas ocasiões.
- Se um alimento subir demais de preço, prefira outro com os mesmos tipos de nutrientes. Por exemplo, com a disparada da batata inglesa você pode usar aipim ou batata-doce na salada. Também pode trocar a cenoura pelo chuchu, se o preço convir.
- Se o tomate estiver caro demais, você pode comprar apenas para a salada, e usar, no molho, a polpa vendida em recipientes, que rende bem.
- Aproveite todo o alimento. Muita gente descarta folhas e talos de couve-flor ou brócolis, por exemplo, e joga fora as cascas de cenoura e batata, que são ricas em nutrientes.
- As cascas de abóbora, por exemplo, podem virar risoto; as de chuchu e batata, petiscos assados no forno. Mas lembre-se de sempre lavar muito bem os legumes.
- Folhas e talo de couve-flor, por sinal, podem render bons suflês ou bolinhos assados.
FONTE: Antônia Cunha, nutricionista da Faculdade Senac Porto Alegre