O presidente Jair Bolsonaro sancionou nesta quarta-feira (24) o projeto de lei que cria a empresa simples de crédito. A nova legislação vai autorizar qualquer empresário a emprestar dinheiro, tendo como limite a receita bruta anual de R$ 4,8 milhões.
A ideia é que esses empreendedores possam assumir parte da demanda por crédito em cidades pequenas, onde a oferta pelos grandes bancos é limitada, segundo Guilherme Afif Domingos, ex-presidente do Sebrae, hoje assessor especial do Ministério da Economia e um dos formuladores do projeto.
Segundo seus cálculos, a medida poderá ampliar a oferta de crédito em R$ 20 bilhões, tendo em conta a criação de 1.000 empresas simples de crédito com capital próprio médio de R$ 2 milhões.
Antes de ser sancionado, o projeto foi vetado duas vezes, nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), devido à resistência do Banco Central.
Dessa vez, o texto recebeu sinal verde após retirar a possibilidade de revenda da carteira de crédito (securitização) pelos empresários, o que poderia provocar risco de calote em cadeia e afetar o sistema financeiro.
Com o novo formato, o BC não é responsável por regular este mercado, pois as empresas só poderão emprestar capital próprio. A única fiscalização ocorrerá por meio da receita Federal, que controlará o limite de empréstimos através do acompanhamento da receita obtida com operações de crédito.
A previsão é que o novo formato atraia principalmente as empresas que hoje atuam no mercado de factoring (que adiantam contas a receber a pequenos lojistas e industriais em troca de uma comissão). Para ser uma empresa simples de crédito, será necessário ter um CNPJ específico para esta atuação. A empresa não terá regime tributário diferenciado do Simples e os sócios poderão ser donos de apenas uma empresa desta natureza.
Os empréstimos só poderão ser concedidos a pequenas e microempresas, além de empreendedores do regime do MEI (microempreendor individual). A previsão é que sejam feitas operações de crédito de cerca de R$ 15 mil.
Após cerimônia de sanção no Palácio do Planalto, da qual participaram o presidente Bolsonaro e os ministros Paulo Guedes e Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central), Afif afirmou que a expectativa é que a iniciativa ajude a baixar os juros, com a maior competição.
— Temos hoje um oligopólio do sistema financeiro. Quando há mais oferta, o preço cai — afirmou.
Ele acrescentou que a maior parte das pequenas e microempresas se financiam hoje ou com fornecedores ou com as linhas mais caras de crédito bancário, como cheque especial.
— O microempresário está hoje nas mãos da agiotagem oficial — disse.
O novo presidente do Sebrae, Carlos Melles, afirmou que a medida poderá ajudar a "fulanizar" o crédito, ao permitir a formalização de operações entre pequenos empreendedores que já se conhecem.