Enquanto o governo Bolsonaro dá sinais de que pretende se desfazer das empresas estatais com resultado financeiro negativo, um grupo de empresários faz o movimento contrário, para tentar evitar a extinção do Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) - estatal do governo federal, especializada na produção de semicondutores, com sede em Porto Alegre.
O argumento central dos empresários do setor é de que a Ceitec funciona como uma indutora da indústria de alta tecnologia, constituindo políticas públicas de incentivo e atração de investimento internacional.
— É um efeito dominó. Tu tiras a Ceitec, depois perde a segunda (empresa) e então perde o investimento do Exterior. E mais, a política que apoia o setor vai expirar em dois anos. Sem a Ceitec, será renovada? — questiona a vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi), Rosana Casais.
Na próxima segunda-feira (18), Rosana e outros empresários da Abisemi defenderão a preservação da Ceitec em encontro com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão. A reunião também tratará sobre outras demandas do setor.
Nesta quarta-feira (13), foi a vez de buscar o apoio político do governador do RS, Eduardo Leite, em reunião no Palácio Piratini. Por mais de uma hora, os empresários e a diretoria da Ceitec expuseram os argumentos a favor da estatal.
— A Ceitec faz parte de uma estratégia de política pública. Dar o sinal de fechar a Ceitec é uma coisa estúpida. É a única estatal que sou contra (privatizar). Deveria não ser estatal, mas é impossível não ser. Para fazer a Ceitec (existir), tem que ser o Estado primeiro — avalia um dos principais defensores da estatal, o empresário Ricardo Felizzola.
Ligado ao setor, Felizzola ainda enfatiza:
— Liquidar a Ceitec é uma bobagem! — dispara.
Apesar de a Ceitec apresentar números negativos desde que foi criada, em 2008, no governo Lula, os empresários dizem que os valores da empresa se revertem em investimentos e criação de empregos no “ecossistema” do setor.
Em 2018, foram R$ 77 milhões de subvenção do Tesouro Nacional, segundo informação da própria Ceitec. Entre os produtos desenvolvidos pela empresa estão os chips do passaporte brasileiro, além de etiquetas de identificação veicular e de animais. Foram 110 milhões de unidades produzidas desde a sua criação.
— Nossa previsão é de que, até 2025, a gente conseguiria ser superavitário. Mas isso muda substancialmente, dependendo da ação do governo — diz o presidente da estatal, Paulo de Tarso Mendes Luna.
Secretário-geral volta a mirar Ceitec
Em evento nesta quarta-feira, em Porto Alegre, promovido pela revista Voto, em parceria com o jornal britânico Financial Times, o secretário-geral de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, voltou a colocar na mira a produtora gaúcha de chips:
– Só as estatais deficitárias custam R$ 15 bilhões por ano ao governo. Com R$ 15 bilhões vou produzir chip pra orelha do boi em Porto Alegre (menção ao primeiro produto que a Ceitec colocou no mercado), ou vou dar creche para todas as crianças de famílias que recebem menos de cinco salários mínimos? Ou para melhorar a qualidade do armamento da polícia? — questionou.