A China deve continuar a ser parceira comercial prioritária do Brasil. Quem assegura é o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão (PRTB), que faz nesta sexta-feira (23) um giro por Porto Alegre, sua cidade natal. Seria uma declaração natural vinda de outro político, mas não de alguém que se elegeu na chapa de Jair Bolsonaro (PSL). O presidente eleito, quando ainda em campanha, criticou acidamente a política externa chinesa, que considera agressiva. Numa entrevista, Bolsonaro chegou a declarar:
— A China não está comprando no Brasil, está comprando o Brasil.
Em sua agenda como candidato, Bolsonaro visitou Japão e Taiwan (inimigo histórico da China), mas evitou o território chinês e isso foi visto por diplomatas como fator de constrangimento.
O mundo diplomático-empresarial teme uma ruptura histórica com a China, que é a maior parceira comercial do Brasil. Bolsonaro, após a eleição, continuou a emitir sinais de que mudará toda a política externa brasileira, priorizando entrosamento com os Estados Unidos.
Mourão, no entanto, parece decidido a minimizar os temores de empresários e diplomatas brasileiros. Em palestra proferida no evento Brasil de Ideias, promovido na capital gaúcha pela revista Voto, garantiu que o Brasil praticará uma "diplomacia pragmática", e isso inclui aumento das trocas comerciais com os Estados Unidos e uma "parceria estratégica" com a China.
— Mandamos soja, eles investem em infraestrutura, por que não? — exemplificou Mourão.
Ele só ressaltou que o Brasil será um importante jogador no cenário diplomático-comercial, não mero assistente. Toda e qualquer parceria deverá ser embasada em contratos e garantias jurídicas —o vice-presidente eleito não comentou a quem se destinava o recado.
Mourão aproveitou para alfinetar a diplomacia praticada nos governos Lula e Dilma.
— Vamos atuar na África Ocidental. A Nigéria nos propõe, por exemplo, venda de gás mais barata que nosso parceiro tradicional, o boliviano Evo Morales. Que fique claro: não faremos parcerias ideológicas, como os governos que nos antecederam. Como os cubanos do Mais Médicos. Agora todos sabem: Cuba vende pessoas como se fossem bens — criticou.
Entre os espectadores da palestra de Mourão, realizada no hotel Sheraton Moinhos de Vento, estavam empresários como Jorge Gerdau Johanpetter e Luiz Roberto Ponte, ex-ministros — como Osmar Terra — e políticos como o deputado federal eleito Marcel van Hattem (Novo) e o deputado estadual, também recém-eleito, Luciano Zucco (PSL).
Confira outros assuntos abordados:
Reforma da Previdência
O vice-presidente eleito disse que a elevação da faixa etária para aposentadoria e do buraco nas contas previdenciária é consenso, "até para a oposição".
Logística e Infraestrutura
Mourão diz que o futuro governo elabora uma carteira com 25 projetos estratégicos em infraestrutura. A maioria envolve ferrovias, rodovias e portos. O objetivo é melhorar o escoamento do setor agropecuário e eliminar os gargalos logísticos.
Menos tributos
O vice-presidente eleito voltou a criticar o cipoal de impostos. E mostra agrado com relação a um imposto único, que pode ser o Imposto de Valor Agregado (IVA), cogitado pela equipe de transição e que incidiria sobre bens e serviços, agregando, por exemplo, ICMS, IPI, PIS, Cofins e ISS. A ideia, disse o general, é simplificar, alargar a base da tributação (mais gente pagar) e diminuir alíquotas.
Menos Brasília
Mourão afirma que o governo tem de diminuir de tamanho. Ele pretende reduzir de 120 para 50 os cargos da vice-presidência da República e garante que providência semelhante ocorrerá em outros ministérios.
Oposição patriótica
O vice-presidente eleito afirma esperar que a oposição entenda que "ontem o Bolsonaro era adversário deles, hoje é o presidente". Mourão acredita que governistas e oposicionistas devem convergir para o que for interessante ao país, não ao governo. Previdência Social é um desses casos.
— Somos seguidores de Caxias, o militar pacificador. Ele deu anistia aos revoltosos e impediu que o Brasil se fraturasse em dezenas de países. Foi um conciliador — exemplificou o general.
Mudar leis penais
Mourão assegurou que segurança é prioridade e, para isso, será sugerido ao Congresso diminuir a facilidade de progressão de regime prisional (para os detentos) e reduzir a maioridade penal.