A montadora japonesa Mitsubishi Motors, a último a entrar para a aliança Renault-Nissan, decidiu nesta segunda-feira (26) destituir o presidente de seu conselho de administração, Carlos Ghosn, poucos dias depois de a Nissan ter feito o mesmo. Em um breve comunicado, o grupo afirma que a diretoria da Mitsubishi considerou "difícil" manter no cargo o poderoso executivo, de 64 anos, detido há uma semana em Tóquio por suspeita de fraude fiscal.
O conselho se reuniu nesta segunda-feira na sede do grupo com a presença de sete diretores, incluindo o diretor-executivo Osamu Masuko e dois executivos da Nissan, principal acionista da Mitsubishi, com 34% do capital. A menor da aliança Renault-Nissan-Mitsubish, com 1,2 milhão de carros vendidos por ano, a empresa decidiu, assim, destituir o homem que salvou o grupo em 2016, momento em que a Mitsubishi Motors estava envolvida em um escândalo de falsificação de dados.
Na quinta-feira passada, o conselho de administração da Nissan afastou Ghosn do cargo de presidente e justificou atuar com "base na abundância e na natureza convincente das provas".
No momento, Ghosn mantém o cargo de conselheiro delegado da aliança e do grupo francês Renault, que iniciou uma auditoria para verificar sua remuneração, informou o governo francês. Enquanto não existirem acusações concretas, Ghosn não será substituído, indicou o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire. A direção interina da Renault está nas mãos de seu adjunto, Thierry Bolloré.
Ao mesmo tempo, o diretor executivo da Nissan Hiroto Saikawa enviou nesta segunda-feira uma mensagem aos funcionários da empresa. Uma fonte próxima à administração afirmou que ele expressou novamente "consternação" com os acontecimentos e destacou que fará o possível para que o caso Ghosn "não afete as relações na aliança, nem as operações do dia a dia" da Nissan.
No entanto, destacou a "desigualdade" na aliança, na qual o poder está concentrado em apenas um homem e impede qualquer discussão estratégica entre Renault e Nissan. Saikawa assistirá esta semana na Holanda a uma reunião da aliança, marcada segundo funcionários e analistas por anos de tensão. Carlos Ghosn permanece em detenção preventiva em uma prisão do norte de Tóquio e nega as acusações.
Com base em documentos entregues pelo grupo às autoridades financeiras japonesas entre 2011 e 2015, a Promotoria suspeita que o executivo dissimulou metade de seus rendimentos procedentes da Nissan. Ghosn teria minimizado sua renda como presidente do conselho de administração da Nissan em quase 5 bilhões de ienes (38 milhões de euros) durante cinco anos a partir de 2011.
De acordo com a imprensa nipônica, ele teria feito o mesmo nos três exercícios fiscais seguintes, o que elevaria o valor total a 8 bilhões de ienes, sem incluir os 4 bilhões de ganhos de suas ações. Fontes citadas pelo jornal Nikkei disseram que Ghosn recebia dois bilhões de ienes por ano como conselheiro delegado da Nissan até o início de 2010, o que na época não era público.
Na ocasião, uma lei mudou as regras, e Ghosn teria reduzido seu salário em quase um bilhão de ienes, para evitar as críticas, além de adiar, ao mesmo tempo, o pagamento do restante para sua aposentadoria. Tudo isto com a cumplicidade de seu braço direito, Greg Kelly, também detido.