Idealizado para ser um ambiente que incentive a cultura do empreendedorismo e o fomento à economia criativa, o Santa Maria Tecnoparque vive dias de escuridão. Desde o dia 28 de junho, o local – que abriga 19 empresas – está às escuras. A RGE Sul cortou a energia do local porque há um passivo de R$ 13 mil em decorrência de uma inadimplência de três meses.
— A energia elétrica foi cortada, ainda na semana passada, e estamos trabalhando, desde então, em horário comercial. Além disso, temos um gerador que tem nos dado um suporte. A tendência é que hoje tenhamos a energia restabelecida — disse ao GaúchaZH Tiago Sanchotene, que cuida das partes administrativa e financeira do Tecnoparque.
Sanchotene afirma que o local precisa de um engajamento maior da sociedade, já que o Tecnoparque é visto a médio e longo prazo como um potencial nicho de diversificação da matriz econômica do município.
Localizado junto ao Distrito Industrial (DI), o Tecnoparque foi criado em 2013 com recursos dos governos federal, estadual e municipal com um investimento de R$ 10 milhões. O prédio de mais de 2 mil metros quadrados começou, à época, com três empresas residentes. Hoje são 19 que, juntas, somam 24 associados. São cerca de 50 pessoas empregadas e um faturamento que fica próximo dos R$ 600 mil mensais.
O custo mensal com pagamento de funcionários e ainda com as contas de energia e água fica na casa dos R$ 13,4 mil. Porém, o faturamento com o aluguel das 19 salas é de R$ 12,2 mil. Ou seja, há um déficit de, pelo menos, R$ 1,2 mil/mês.
— A questão toda é que não há fluxo de caixa. E por isso vejo que a saída estará em rentabilizar esse espaço ocioso. E, assim, ganhar um fôlego financeiro— avalia Sanchotene.
Ainda que o estatuto não preveja compromissos e obrigações por parte da prefeitura, desde a sua criação, é o Executivo municipal quem tem assegurado o maior aporte de recursos junto ao local, que conta com 46 salas. Desde 2013 para cá, a prefeitura investiu cerca de R$ 1 milhão. Conforme a secretária adjunta de Desenvolvimento Econômico, Ticiana Fontana, o poder público sabe da necessidade de se manter ao lado dessa ideia:
— A prefeitura tem feito, mesmo em meio às restrições financeiras, repasses. Até porque entendemos que há necessidade de fomentar o desenvolvimento econômico. Mas, no momento, o Tecnoparque está em dívida ativa, o que impede de o município repassar verbas.
Outra situação que preocupa é que Santa Maria conta, desde 2013, com uma lei própria – de autoria da prefeitura – para fomentar o desenvolvimento econômico. Porém, ela tem validade de cinco anos e ela expira agora em 2018.
Reunião e definição
Na quinta-feira (5), às 18h, haverá uma reunião da associação do parque tecnológico para se debater possibilidades e saídas para que a instituição não corra o risco de fechar as portas. O presidente do conselho da associação, o empresário Júlio Kirchoff, afirma que as entidades que integram o conselho não têm obrigação de aportar recursos.
— Nós vamos traçar caminhos, mas é bom que se diga que ninguém tem obrigação de colocar dinheiro lá. Quando ele (Tecnoparque) foi criado, se tinha a perspectiva que seria possível atingir um equilíbrio financeiro em até 10 anos. Já se percorreu metade do caminho e não acredito que se corra o risco de um fechamento — diz Kirchoff.
Outra instituição que integra a associação, a Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism) afirma que todos os esforços precisam se dar no sentido de que o parque tecnológico seja autossuficiente.
— Todos queremos que esse espaço seja exitoso e ele está, mesmo com todas dificuldades, se encaminhando para isso. A gente não tem como contribuir com recursos de forma significativa. O que fazemos hoje é dar uma ajuda simbólica — reconhece Rodrigo Décimo, que preside a Cacism.
As duas maiores instituições de Ensino Superior da cidade, a UFSM e a Universidade Franciscana (UFN), contam com espaços próprios para estimular a geração de produtos e de processos inovadores.
Conforme o vice-reitor da UFSM, Luciano Schuch, o parque tecnológico de Santa Maria deve ser encarado como um agente catalisador para o desenvolvimento do município e, por consequência, da região.
— Será por meio dessa sinergia que teremos o que tanto esperamos: a transferência de conhecimento e tecnologia entre os mais distintos agentes, estimulando a geração de produtos e processos inovadores. Santa Maria começou pela ponta deste processo todo. O Tecnoparque é a última fase de um processo todo que precisa, repito, ser fortalecido na base. Precisamos fomentar o surgimento de ideias e despertar na população que essa é uma demanda importante para o crescimento de Santa Maria. Não se pode desistir. Florianópolis com o Sapiens Parque, por exemplo, soube percorrer esse caminho, foi uma jornada de 30 anos que se reverteu em crescimento econômico. Santa Maria precisa fazer o mesmo — reforça Shuch.
A UFSM conta com três incubadoras - Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (Agittec), Pulsar e Incubadora Tecnológica de Santa Maria (ITSM) - que, juntas, somam 50 empresas.
Já a reitora da UFN, a irmã Iraní Rupolo, afirma que a instituição, a exemplo das demais entidades, não tem qualquer obrigação com repasse de verbas para o parque tecnológico de Santa Maria. Mas, segundo ela, o local tem se mostrado em uma medida acertada:
— A cultura da inovação ainda é algo recente em Santa Maria. E um desafio é fazer com que se reduza a mobilidade de jovens, que aqui se formam, e que acabam levando embora consigo todo o conhecimento aqui adquirido. Acredito que o Tecnoparque está trilhando o seu caminho, mas como toda mudança cultural e de mentalidade é preciso ter paciência e perseverança para que o parque tecnológico seja exitoso.
A UFN tem 17 empresas incubadas que movimentaram, no ano passado, R$ 2 milhões, conforme Lissandro Dalla Nora, coordenador da incubadora da UFN.