O Facebook perdeu US$ 119,4 bilhões em valor de mercado nesta quinta-feira (26). De acordo com a Bloomberg, é a maior perda diária de uma empresa na bolsa dos EUA, e a primeira vez que são perdidos mais de US$ 100 bilhões em um dia no mercado acionário.
As ações da maior rede social do mundo caíram 19%, fechando em US$ 176,26. A divulgação dos resultados da empresa, realizada na quarta-feira (25), mostrou que o crescimento de usuários ativos mensais foi de 11%, muito abaixo das expectativas do mercado. Foi também a maior queda diária da empresa desde que ela abriu capital, em 2012.
— É a lei dos grandes números, há um momento em que esses grupos atingem tal nível que não conseguem crescer no mesmo ritmo. O Facebook, como a Netflix na semana passada, acaba de sofrer — disse Adam Sarhan, do 50 Park Investment, à agência AFP.
Na quarta-feira (26), a companhia informou que o lucro subiu 31% no segundo trimestre, chegando a US$ 5,1 bilhões, enquanto a receita subiu 42%, alcançando US$ 13,2 bilhões. A principal métrica dos usuários ativos mensais subiu 11%, para 2,23 bilhões, abaixo da maioria das estimativas, de 2,25 bilhões, enquanto os usuários ativos diários cresceram 11%, para 1,47 bilhão, índices bem abaixo do esperado - foi o menor crescimento de usuários ativos em seis anos.
Entenda o caso
A queda de valor de mercado registrada nesta quinta-feira (26) é muito próximo ao valor de empresas como Nike (US$ 125,1 bilhões) e General Electric (US$ 114 bilhões). Só o presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, diminuiu sua a avaliação de seus bens em US$ 15,4 bilhões, tendo agora uma fortuna avaliada em US$ 67,1 bilhões. Ele caiu duas posições no ranking dos mais ricos do mundo da revista Forbes — agora, ele está em sexto, depois de ser ultrapassado pelo megainvestidor Warren Buffett (US$ 82,6 bilhões) e pelo dono da Zara, Amancio Ortega (US$ 72,3 bilhões). O mais rico do mundo segue sendo Jeff Bezos, presidente executivo da Amazon, com fortuna avaliada em US$ 148,6 bilhões, segundo a Forbes.
Além disso, a perda de valor do Facebook supera de longe os US$ 95 bilhões de desvalorização que a empresa teve no auge do caso Cambridge Analytica. O caso mostrou como o Facebook tomou uma série de decisões erradas nos últimos anos ao não proteger a privacidade de seus usuários — no escândalo, a consultoria obteve indevidamente as informações de 87 milhões de pessoas pela rede social. A empresa também enfrentou críticas por permitir a propagação de notícias falsas durante a campanha presidencial dos EUA, em 2016.
A onda de notícias negativas fez o Facebook mudar suas políticas de privacidade e segurança. Mark Zuckerberg, cofundador da rede social, deu explicações nos EUA e na Europa. O trabalho de contenção de crise parecia ter dado resultado — em três meses, a empresa conseguiu recuperar seu valor de mercado antes da crise. No entanto, a conta chegou agora.
—A credibilidade do Facebook com investidores foi afetada. Se os resultados e projeções fossem bons, o impacto poderia não acontecer. Mas não foi o caso — disse o professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Pedro Waengertner.
Usuários
No fim de junho, o Facebook atingiu 2,23 bilhões de usuários ativos mensalmente — incremento de 1,54% na comparação com o primeiro trimestre de 2018. É o menor ritmo de crescimento de usuários da empresa em três anos — e metade da média para o período, que ficou acima de 3% por trimestre. Em mercados desenvolvidos, o resultado foi ainda pior: nos EUA, a empresa ficou estável em 241 milhões de usuários. Na Europa, onde uma nova legislação de privacidade de dados entrou em vigor em maio, o Facebook perdeu 1 milhão de usuários, caindo para 376 milhões de cadastros ativos todos os meses.
No segundo trimestre de 2018, o Facebook viu sua receita atingir US$ 13,2 bilhões, crescimento de 42%, abaixo do ritmo dos últimos períodos. No primeiro trimestre, a empresa viu a métrica subir 50%, por exemplo.
— E não há previsão de melhora no horizonte. O diretor financeiro da empresa anunciou que espera ver mais quedas na expansão da receita nos próximos trimestres. "É uma combinação de fatores. Entre eles: câmbio, foco em novas experiências, como (as mensagens efêmeras) Stories, e (medidas para) dar mais poder de privacidade aos usuários — disse David Wehner, diretor financeiro da empresa, em conferência com investidores na quarta-feira.