Estudo realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) indica a possibilidade de o Rio Grande do Sul hospedar jazidas de níquel semelhantes às existentes em países como Canadá e Rússia. O levantamento, realizado por cerca de três anos e concluído no fim de 2017, analisou o solo na fração sul da Bacia Geológica do Paraná, que engloba todo o território gaúcho. A bacia, em sua totalidade, se estende do norte do Uruguai ao centro-oeste do Brasil.
— Existe a possibilidade real de ter depósitos de níquel. Agora, é necessário que alguém se interesse e invista na procura destas reservas para confirmar ou não a existência. O que sabemos é que são muitas as semelhanças de estrutura magmáticas e sedimentar entre a nossa região e a de Norilsk, na Rússia, onde está a maior jazida de níquel do planeta _ conta o chefe do projeto, Wilson Wildner. Segundo o pesquisador, grupos canadenses e japoneses demonstraram interesse em explorar o solo gaúcho.
Professor de geologia da Unisinos, ele explica que a área mais propícia fica entre a Região Metropolitana e centro-norte do Rio Grande do Sul. Neste perímetro, as rochas da Bacia do Paraná apresentam grandes falhas, condição que permite a ascensão do magma em direção à superfície. As amostras coletadas durante o levantamento indicam que este magma vindo do manto terrestre é rico em níquel.
Além disso, complementa o geólogo, para que esse mineral adquira as propriedades ideais, é essencial que ao emergir seja contaminado com sedimentos ricos em enxofre, elemento químico presente em abundância na Bacia do Paraná. Outro indicativo que corrobora o estudo é a quantidade de cobre nativo no Estado, metal que necessita da mesma estrutura sedimentar que o níquel para se mover até as camadas mais externas da crosta terrestre.
— Gostaríamos que essas jazidas fossem encontradas e que tenham o mesmo volume que o depósito russo, mas ainda há um grande ponto de interrogação. O que se sabe é que quando elas existem, geralmente apresentam minérios em grande quantidade. Toda a região de Norilsk, por exemplo, se movimenta economicamente só em torno deste objeto geológico. Ou seja, aqui, trariam modificações substanciais para o Estado. Se fossem confirmadas, inclusive, viabilizariam uma produção que hoje não existe no Rio Grande do Sul. Além do mais, o que se produz no país não supre a necessidade — pontuou Wildner.
O professor acrescenta que o níquel é muito utilizado em ligas metálicas, baterias recarregáveis, moedas e em condutores de eletricidade. Sua resistência à corrosão, força e alto ponto de fusão contribuem para seu uso generalizado. Setores industrial, militar, aeroespacial, marítimo, arquitetônico e de transporte estão entre os que mais se aproveitam deste minério.
O levantamento aponta, ainda, que o mundo consumiu 2,44 milhões de toneladas de níquel em 2013, produzidos principalmente pela Indonésia e Filipinas, e puxado fortemente pela demanda da China. De acordo com o Instituto do Níquel, o uso deste minério está crescendo cerca de 4% ao ano em países industrializados e é o 22º elemento mais abundante em peso na crosta terrestre.
Conforme o diretor de Geologia e Recursos Minerais do CPRM, José Leonardo Andriottti, o Brasil ficou por muitos anos sem mineração de cobre e ainda depende da sua importação. Para ele, portanto, o estudo é parte do esforço para reduzir a dependência externa. A pesquisa foi apresentada nesta terça-feira (8) no Auditório do Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul. A CPRM é uma empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia com as atribuições de Serviço Geológico do Brasil.
"Imprescindível para a economia", aponta geólogo
Professor da UFRGS, o geólogo Antônio Pedro Viero destaca que a mineração é uma atividade que oferece risco ao ambiente, mas que os impactos podem ser minimizados com adoção das técnicas adequadas.
— Considero a mineração imprescindível para a economia, mesmo sabendo que não é possível fazê-la sem impacto ambiental. Mas esses danos podem ser reduzidos diante de estudos e projetos adequados sobre emissões atmosféricas e tratamento de efluentes. Eu sou a favor da mineração desde que utilizada a melhor técnica disponível — avalia.
O geólogo aposentado Pércio de Moraes Branco sublinha que no Rio Grande do Sul há escassez de recursos minerais, o que impede a possibilidade de produção em larga escala.
— Quando se descobre uma jazida, (ela) tem de ser aproveitada — diz.
Mina de fósforo em Lavras do Sul foi descoberta por pesquisa do CPRM
Para ampliar o conhecimento de áreas de exploração próximas à fronteira com o Uruguai, o estudo foi ampliado para o chamado embasamento da Bacia do Paraná, localizado principalmente na região centro-sul. Lá foram detalhadas áreas conhecidas por suas reservas de carvão, calcário, granito, argila, ouro, cobre, chumbo e zinco. Além disso, coleta feita em 2009, que teve os resultados incluídos nesta pesquisa, apontou a possibilidade de existência de uma jazida de fósforo em Lavras do Sul. Foram feitos estudos detalhados nos anos seguintes que confirmaram a presença do mineral.
A empresa Águia Fertilizantes está providenciando junto à Fepam as autorizações necessárias para a exploração. Conforme a mineradora, há fósforo suficiente nesta jazida para exploração por mais de 20 anos. Ainda em 2018 devem ser realizadas audiências públicas de apresentação do projeto à comunidade. A Águia atua na região desde 2011, quando adquiriu licença para estudos sobre jazidas de ouro, mas o mineral não foi encontrado.
O geólogo Jorge Laux, um dos autores deste estudo que abrange 13 cidades gaúchas, explica que, embora conhecidas, algumas jazidas seguem inexploradas por inviabilidade econômica ou, até mesmo, falta de estudo sobre o investimento necessário para início da extração.
— É preciso investir em pesquisas sobre os recursos minerais existentes, pois essas ocorrências podem trazer dividendos para os municípios — complementa.
O mapeamento tem como objetivo subsidiar dados para prefeituras, universidades e empresas privadas. Para o poder público, a pesquisa geológica auxilia na elaboração de planos diretores, planejamento de uso do solo e até exploração de reservas de materiais como brita, areia e aterro. Para a iniciativa privada, o mapeamento reavalia o potencial mineral, importante para a prospecção de minerais e água.
Para a geóloga Lucy Takehara, os mapas reforçam que o centro-sul do Estado, região que tem como atividade econômica principal o setor agropecuário, pode ir além da produção de carvão em Candiota e Hulha Negra.
— Estas pesquisas ampliam o conhecimento geológico da região e apontam potencialidades que podem impulsionar novos investimentos no setor mineral — destaca.
O levantamento ocorreu em uma área de 12,5 mil quilômetros quadrados nos municípios de Aceguá, Bagé, Candiota, Dom Pedrito, Herval, Hulha Negra, Lavras do Sul, Pedras Altas, Pinheiro Machado, Santa Margarida do Sul, São Gabriel e Vila Nova do Sul.