O descarte de ovos fecundados e de pintinhos de um dia virou rotina nas granjas, depois que a greve interrompeu o abastecimento de ração.
O Grupo Alvorada, de Itapetininga (SP), por exemplo, que fornece matrizes de aves de corte para 70 frigoríficos, já eliminou um milhão de pintinhos desde o começo da greve e teve um prejuízo de R$ 4 milhões. Fernando Vieira, veterinário da empresa, explica que os pintinhos são descartados dentro da máquina nascedoura e depois seguem para o aterro sanitário. "Temos dois milhões de matrizes alojadas, se não chegar a ração, vamos perder tudo isso também."
Na Zanchetta Alimentos, de Boituva (SP), cerca de 400 mil ovos fecundados foram descartados e viraram adubo. A empresa tomou essa decisão de reduzir o alojamento de frangos porque se viu acuada por não está conseguindo entregar ração para 11,5 milhões de aves criadas para mais de 400 produtores integrados. O plantel está avaliado em R$ 50 milhões. "Não temos insumos para formular as rações", diz o diretor da empresa, Carlos Augusto Zanchetta.
Em Angatuba (SP), o avicultor Paulo Morais tinha 170 mil frangos praticamente sem ração. Ele esperava a chegada de um caminhão no sábado, mas o veículo ficou retido num bloqueio próximo de Jundiaí (SP). Na manhã de segund-feira, 28, ele usou o que restava do estoque. "Daqui para a frente, eles vão ter só água para beber." Parte do plantel está em ponto de corte, mas o frigorífico suspendeu os abates por falta de escoamento.
Os problemas enfrentados pelos três produtores por causa da greve é apenas uma parcela de um prejuízo gigantesco calculado pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Cerca de 1 bilhão de aves podem morrer nos próximos dias por falta de ração, segundo a ABPA. Em todo o País, especialmente em São Paulo, Paraná e Santa Catarina, já há registro da morte ou perda de 64 milhões de aves e pintinhos, diz o diretor da ABPA e presidente da Associação Paulista de Avicultura, Érico Pozzer. "Os ovos incubados levam 21 dias para eclodir e, aos 19 dias, estão sendo quebrados e descartados, pois não tem granja para alojar os pintinhos. Vai tudo para o lixo, mas nem lixo suficiente estamos tendo."
Conforme Pozzer, as granjas estão racionando a alimentação por falta de milho, farelo de soja e outros insumos para fazer a ração. "O normal é alimentar os frangos 24 horas por dia, mas eles estão recebendo ração só uma ou duas vezes por dia para que não morram. Temos visto frangos abaixo do peso e muitos casos de canibalismo." As perdas se avolumam com o prosseguimento da greve. "É uma situação jamais vista." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.