A inflação baixa no país, observada no freio nos preços, traz alívio ao bolso do brasileiro, mas é causa de preocupação. Mesmo com alguns sinais de reação, a fraca demanda por produtos e serviços se mantém e sinaliza que a retomada da atividade econômica segue a passos lentos.
Em março, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,09%, o menor nível para o mês desde a implantação do Plano Real, em 1994, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, atingiu 2,68% no acumulado dos últimos 12 meses, abaixo do piso da meta de inflação do Banco Central (BC) para este ano, de 3%. E esse cenário vem se repetindo desde julho de 2017.
– A economia foi para o buraco na crise, e a retomada tem sido bem morna. Não há grande demanda entre consumidores. Assim, lojistas não conseguem aumentar os preços cobrados em conjunto. Isso segura a inflação – frisa o economista Marcelo Portugal, professor da UFRGS.
O freio no IPCA fez com que analistas do mercado financeiro diminuíssem suas projeções. Conforme o boletim Focus, divulgado pelo BC, a estimativa para o índice oficial ao fim de 2018 caiu para 3,53%, o décimo recuo consecutivo.
– A inflação baixa mostra que a retomada da economia depois da recessão não é lá essas coisas – define André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
Um dos vetores que represam a demanda por produtos e serviços é o alto nível de desemprego, sublinha o analista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). Entre dezembro e fevereiro, último dado divulgado pelo IBGE, 13,1 milhões de trabalhadores estavam sem ocupação no país.
Em meio à retomada lenta da economia, nem mesmo os 12 cortes seguidos na taxa Selic – definidos pelo BC a partir de outubro de 2016 – conseguiram alavancar a demanda de maneira robusta. O juro básico é o principal instrumento da instituição para o controle da inflação. Como o IPCA está em baixa, o BC seguiu com a poda na Selic para tentar incentivar o consumo dos brasileiros e a produção nas empresas.
– Os cortes ainda não bateram na economia. Isso ocorre porque as pessoas estão levando bastante tempo para consumir depois da crise – comenta Braz.
Em parte, a inflação baixa também está relacionada a um fator colhido nas lavouras e com reflexos no prato dos brasileiros.
Em março, o grupo de alimentos e bebidas, que corresponde a quase um quarto do IPCA, teve deflação acumulada em 12 meses (recuo generalizado nos preços) de 1,64%.
– Tivemos sorte porque a safra agrícola foi muito boa no ano passado e aumentou a oferta de produtos – menciona Portugal.