Preocupado com a falta de recursos para quitar compromissos mais urgentes como salários, o governo gaúcho arrecadou R$ 484,9 milhões brutos com a venda de 26 milhões de ações preferenciais (sem direito a voto) em leilão nesta terça-feira (10) na bolsa paulista, a B3. Os recursos equivalem a um terço do custo mensal do funcionalismo do Executivo, de R$ 1,45 bilhão.
Conforme regras de liquidação de operações do gênero, o dinheiro deve estar à disposição do Piratini na sexta-feira. No Estado, há a projeção de que entrem ao menos R$ 480 milhões líquidos, descontados tributos e custos operacionais.
O valor fica abaixo da expectativa da cúpula do Piratini, que trabalhava, nos bastidores, com R$ 520 milhões – cotação da ação a R$ 20. Analistas financeiros entendem que, enquanto para o Estado foi uma medida apenas paliativa diante do tamanho da crise fiscal, para quem comprou foi um bom negócio em razão da perspectiva de valorização dos papéis do banco estatal gaúcho. Na operação coordenada pelo BTG Pactual, o valor mínimo fixado foi de R$ 18, cotação que perdurou por boa parte do leilão, iniciado às 12h15min e encerrado às 12h38min.
Nos últimos minutos, o apetite comprador foi um pouco maior e o valor final ficou em R$ 18,65. Mesmo assim, 5,3% abaixo da cotação de fechamento da sexta-feira, quando o mercado ainda não sabia formalmente da operação.
Flávio Oliveira, sócio da Zahl Investimentos, explica que, em processos do gênero, com negociação massiva de papéis, os vendedores costumam fixar um piso de preço abaixo dos últimos dias para garantir o interesse dos compradores.
– O mercado é movido por oferta e demanda, e isso é normal quando há uma avalanche de vendas – afirma o especialista.
Para o analista de investimentos Luiz Henrique Wickert, da corretora Solidus, apesar de as ações terem saído acima do piso mínimo, o resultado não pode ser considerado bom porque, no mês passado, chegou a estar acima de R$ 21.
O valor de R$ 18 teria sido fixado pelo BTG após sondagem no mercado, pouco acima do limite estabelecido pelo Estado, diz observador da operação ligado ao governo.
– O valor arrecadado é baixo, tendo em vista a situação fiscal. É menor que um mês de folha de salário de servidores ativos. É importante cobrar qual o destino do dinheiro para que não seja usado puramente para pretensões eleitoreiras – diz Wickert, que considera a saída encontrada pelo Piratini paliativa e é partidário da tese de que a privatização poderia começar a tirar o Estado da difícil situação fiscal em que se encontra.
Para quem comprou os papéis, avalia o especialista, parece ter sido bom negócio. Wickert entende que, como os fundamentos do Banrisul são sólidos e há sinais positivos como crescimento da carteira de crédito e queda da inadimplência, passada a pressão de venda é possível que as ações retomem a trajetória de alta.
No ano, as ações preferenciais do banco estatal gaúcho sobem 32%, contra 9% do índice Ibovespa.
O assessor de investimentos Bruno Madruga, da Monte Bravo, lembra que, há poucos dias, os papéis mais líquidos do Banrisul se aproximavam de R$ 22. Por isso, entende que os compradores aproveitaram uma boa oportunidade com o grande volume de vendas, empurrando para baixo os preços.
– Foi um bom negócio para médio e longo prazo – afirma.
A próxima tentativa de o governo levantar novos recursos com a venda de ações será a abertura de capital da subsidiária Banrisul Cartões, ainda sem data definida.
O destino
Oficialmente, o Piratini se manifestou apenas por meio de nota genérica, de três parágrafos. No texto, diz que a venda "é mais uma etapa do esforço do governo do Estado para buscar, através de medidas financeiras emergenciais, o equilíbrio fiscal e atender, desta maneira, seus compromissos mais essenciais para a sociedade".
A assessoria de imprensa da Secretaria da Fazenda informou que parte do valor obtido na operação também será destinada para investimentos em áreas como saúde e educação.
O leilão
Preço da ação: R$ 18,65
Valor bruto arrecadado: R$ 484,9 milhões
Valor da folha do Executivo: R$ 1,45 bilhão
Participação do Estado no capital social total do banco
Antes da operação: 56,97%
Depois da operação: 50,62%
Como fica o controle
Permanece igual, porque o Estado segue com 99,58% das ações ordinárias, as com direito a voto.
A venda das 26 milhões de ações representam 12,75% dos papéis preferenciais e 6,35% do capital total do Banrisul.