O juiz André Wasilewski Duszczak, da 1ª Vara Federal de Ponta Grossa (PR), acolheu pedido do Ministério Público Federal (MPF) e afastou seis executivos de suas funções na BRF, gigante do setor de carnes e processados, dona das marcas Sadia e Perdigão. O argumento é de que, caso voltassem às suas funções na empresa, os investigados na Operação Trapaça, 3ª fase da Carne Fraca, poderiam atrapalhar o andamento das investigações.
O pedido de afastamento foi acolhido pela Justiça na sexta-feira (9), ao término do prazo de prisão temporária.
A Trapaça não envolve crime de corrupção, mas investiga fraudes praticadas por empresas e laboratórios que tinham como finalidade burlar o Serviço de Inspeção Federal e não permitir a fiscalização eficaz do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
"As cautelares determinam que não frequentem a companhia ou outros estabelecimentos operacionais ligados à empresa, inclusive laboratórios, suspendendo tais investigados de suas atividades profissionais junto da empresa ou de qualquer estabelecimento ligado a ela. Caso descumpram as medidas cautelares, ficam sujeitos à decretação de prisão preventiva", informou a Procuradoria da República em nota neste sábado (10).
Para a procuradora da República em Ponta Grossa, Lyana Helena Joppert Kalluf, a liberação dos investigados, acompanhada do retorno deles às suas atividades na BRF, coloca em risco a ordem pública e econômica, já que poderiam atrapalhar o andamento das investigações assim como continuar a realizar as graves fraudes que em tese já vinham cometendo.
Foram submetidas às medidas cautelares: Fabiana Rassweiller de Souza (responsável pelo Setor de Assuntos Regulatórios do Corporativo do Grupo BRF); Décio Luiz Goldoni (gerente agropecuário da planta da BRF de Carambeí); Andre Luis Baldissera (teoricamente afastado da BRF desde a primeira fase da Operação mas recebendo salário); Harissa Silverio El Ghoz Frausto (atuante nos laboratórios de análises que atendiam a BRF); Helio Rubens Mendes dos Santos (vice-presidente da BRF até 26 de fevereiro de 2018); e Natacha Camilotti Mascarello (analista de qualidade da fábrica de rações em Chapecó).
A partir da análise técnica de todo o material arrecadado na operação, o que está sendo feito pela Polícia Federal em conjunto com equipe do Mapa e que demanda razoável duração, será avaliada a possibilidade de oferecimento de denúncias.
A BRF não retornou os contatos da reportagem.
Segundo o Ministério da Agricultura, as empresas analisadas pela operação burlavam a fiscalização preparando amostras, através dos laboratórios investigados. O objetivo era "esconder a condição sanitária dos lotes de animais e de produtos, evitando, assim, uma medida corretiva restritiva do Serviço Oficial".