Uma das empresas chinesas que entraram de forma mais agressiva no Brasil nos últimos anos, a estatal China Three Gorges (CTG) começou a relação com o país quando veio conhecer Itaipu para depois construir a hidrelétrica que viria a ser a de maior potência instalada no mundo. O presidente da companhia no Brasil, Li Yinsheng, diz que, com a retomada brasileira, os investimentos em energia terão de crescer.
Várias empresas chinesas têm feito investimentos no setor de energia no Brasil. Por que o interesse nessa área?
O Brasil é um país aberto a investimentos, não apenas vindos da China, e é uma das indústrias de energia mais sofisticadas do mundo. Acreditamos que o Brasil tem características que qualquer investidor estrangeiro procura: mão de obra qualificada, potencial de crescimento e um bom marco regulatório. É um país em desenvolvimento, e estas boas condições vão além do cenário econômico. São muitos projetos de energia limpa, e esse é o foco da CTG.
Como a CTG pretende crescer mais no Brasil?
Após todas as aquisições e uma importante vitória em leilão, o foco agora é consolidar as operações. Estamos sempre avaliando a participação em certames ou oportunidades de aquisição, e novos investimentos irão depender das condições das concessões destes projetos. A nossa decisão de entrar no mercado brasileiro está baseada em uma visão de longo prazo do potencial do país. Mesmo que o ambiente de negócios seja um desafio agora, este é um mercado-chave para nós devido ao seu potencial de necessidades energéticas e recursos para o desenvolvimento e operação de projetos de geração de energia renovável em larga escala, o que é o foco da CTG. Queremos ser um dos principais players do mercado brasileiro de energia, combinando os conhecimentos do Brasil e da China para gerar soluções de energia limpa para o futuro. Não há decisão sobre a estratégia de crescimento entre o greenfield (novas empresas) ou a aquisição, porque a decisão deve ser tomada a cada oportunidade. Fizemos grandes investimentos em greenfield, juntamente com a EDP.
A crise tornou os ativos mais baratos e facilitou as aquisições?
Não, os ativos não são mais baratos. O valor dos ativos reflete as expectativas futuras para o negócio, que se baseiam no consenso do mercado. As transações dependem mais da disposição do vendedor e do comprador para fechar o negócio do que do contexto macroeconômico.
O setor elétrico brasileiro teve um sério desequilíbrio nos últimos anos. Qual é a visão da CTG para o futuro do segmento?
O Brasil terá a importante tarefa de acelerar o crescimento econômico, por meio de reformas fiscais e de mercado. O governo atual se mostrou aberto a discussões técnicas, e o país terá um bom ponto de partida e incentivos para continuar essas conversas. No setor de energia, o governo vem trabalhando em uma solução para questões de curto prazo e para a melhoria do quadro regulatório. Uma vez que a atividade econômica se recupere, novos investimentos no setor de energia serão necessários. É quando um marco regulatório justo e eficiente será importante para atrair recursos privados.
O Brasil precisa de reformas, e se ajudarem o país, obviamente as vemos com bons olhos
O que o Brasil deveria fazer para crescer de forma sustentável?
Acreditamos na importância das reformas estruturais (Previdência, fiscal, política) para melhorar a competitividade.
Quais são as principais diferenças na cultura empresarial do Brasil e da China?
A CTG iniciou sua relação com o Brasil há 20 anos, quando chegamos aqui para aprender com Itaipu para começar a construir o projeto da usina Três Gargantas, e por isso estamos familiarizados com o país, o mercado e as pessoas. Sempre há diferenças culturais entre as nacionalidades. No entanto, consideramos as diferenças uma oportunidade de aprender. Os engenheiros chineses estão no Brasil apenas para troca de conhecimento com a equipe brasileira, que lidera os processos. Estamos investindo no Brasil porque acreditamos na indústria deste país.