No mês passado, o Brasil teve saldo de 59,8 mil vagas de emprego com carteira assinada. É o primeiro resultado positivo para abril desde 2014, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta terça-feira (16) pelo Ministério do Trabalho. O país, no entanto, ainda registra fechamento de 969,9 mil postos de trabalho no acumulado dos últimos 12 meses. Também há perda de 933 vagas nos quatro primeiros meses de 2017.
Em nível nacional, apenas no setor de construção civil houve aumento do desemprego em abril, com 1,8 mil demissões líquidas no mês. No setor de serviços, foram abertos 24,7 mil postos de trabalho em abril, seguido pela agropecuária, com saldo de 14,6 mil vagas.
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O governo celebrou os números. De acordo com o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, a expectativa é "comemorar essa retomada do emprego no Brasil com número positivo também em maio".
Economistas são mais cautelosos. Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Giácomo Balbinotto Neto entende que os dados indicam, no máximo, uma "luz fraca no final do túnel". Segundo o especialista em economia do trabalho, ainda há redução do nível do emprego em setores que costumam ser os primeiros a reagir quando a crise acena ao ir embora, como as indústrias metalúrgica, mecânica e de papel e papelão:
– Na variação dos últimos 12 meses, tanto em saldo quanto em estoque, houve redução de vagas. Sou bastante cético no sentido de ter retomada sustentável. No mercado de trabalho, ainda há muito túnel a percorrer para a saída definitiva da crise.
Inflação sob controle permite queda do juro
Balbinotto acrescenta que a expectativa pelas reformas trabalhista e previdenciária, além dos sobressaltos no meio político, também colaboram para criar ambiente de incertezas, que leva empresários a adiarem investimentos. A boa notícia, afirma, é que o "controle eficaz" da inflação deve abrir espaço significativo para a redução da taxa de juro real, mas ainda vai demorar para que isso se materialize em investimentos.
Para a economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Lúcia dos Santos Garcia, o nível de desemprego ainda é bastante alto e os dados do Caged demonstram que "podemos ter chegado, de fato, ao fundo do poço".
– Mas esse poço é muito fundo. Escalar as paredes será uma tarefa exaustiva, que pode levar, no mínimo, 10 anos. Só vamos começar a ter os primeiros sinais de recuperação em 2018 ou 2019 porque o nosso tombo foi muito forte – afirma Lúcia.
O economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo, aponta que, em termos dessazonalizados, há um cenário de recuperação gradual do emprego, assim como da economia, com destruição líquida de vagas cada vez menor. O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, reforça que há "estancamento" do processo de perdas do mercado de trabalho, mas que não deve ocorrer recomposição de vagas de maneira "célere".
Fim da safra no RS impacta contratações
Enquanto o país teve saldo positivo no balanço do emprego formal em abril, o Rio Grande do Sul registrou 3.044 demissões a mais do que contratações no mês passado. No acumulado do ano, porém, o Estado registra saldo positivo de quase 22 mil vagas.
Os setores com melhor desempenho em abril foram a indústria de transformação (saldo de 973 vagas), serviços (155) e construção civil (117). Os que tiveram performance mais negativa foram agropecuária (-2,8 mil) e comércio (-1,4 mil). O fim da safra de verão e, consequentemente, dos contratos temporários de trabalho no campo, ajudou a puxar para baixo o desempenho do Estado, um dos principais produtores de alimentos do país.
No ranking dos municípios com mais de 30 mil habitantes, destacam-se duas cidades do Vale do Rio Pardo: Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul tiveram mais contratações do que demissões. Por outro lado, Vacaria e Porto Alegre fecharam abril com saldo negativo.
Segundo o economista da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, a explicação para o fechamento de vagas no campo é o fim dos contratos temporários dos chamados safristas, especialmente os trabalhadores envolvidos com as lavouras de grão e colheita da maçã.