Sob o impacto da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal (PF), as exportações de carnes brasileira caíram drasticamente, segundo dados apresentados nesta quarta-feira pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que realiza audiência conjunta com a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). As exportações caíram de US$ 63 milhões na média diária para apenas US$ 74 mil na terça.
– A gente não sabe o tamanho da pancada que vai levar – disse ele aos senadores.
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Também presente à reunião, o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Pereira, relatou que o Brasil exportou US$ 13,5 bilhões em carnes no ano passado. O Brasil é o maior exportador de carne de frango e bovina, e o quarto fornecedor mundial de carne suína.
Irregularidades
O ministro da Agricultura admitiu ter ouvido rumores sobre irregularidades na superintendência da pasta no Paraná.
– Quando cheguei no ministério, sim, havia comentários – disse, respondendo a questionamento dos senadores Gleisi Hoffman (PT-PR) e Lasier Martins (PSD-RS). – Fui para o Paraná várias vezes, perguntei sobre o comportamento do superintendente – declarou ele na audiência conjunta.
Quando há denúncias de irregularidades, disse ele, é aberta uma investigação interna, um processo administrativo.
– Nem sempre são na velocidade que gostaríamos, porque o corpo de funcionários conduz de forma diferente de uma operação policial, que não tem preocupação se um amigo será prejudicado – relatou.
Maggi explicou que existe, nas superintendências, uma "guerra fratricida" entre grupos.
– Pressão política, claro que existe – ressaltou.
Ele acrescentou que Gleisi, já tendo exercido a chefia da Casa Civil, "sabe como são os procedimentos, como isso acaba acontecendo".
Maggi se recusou a responder ao questionamento da senadora sobre por que o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, continua no cargo mesmo após ter sido apontado como o "epicentro" da operação.
O ministro informou que o problema hoje está restrito ao Paraná e Goiás.
– Mas as investigações vão continuar – garantiu. – Não vai parar porque a gente achou que foi comunicada da forma errada. Agora, é esperar o que vem para frente.
Surpresa
Blairo Maggi disse ainda que o governo foi surpreendido com a deflagração da Operação Carne Fraca, pela Polícia Federal, ocorrida na sexta-feira passada.
– Não temos de defender ninguém que fez coisa errada e em nenhum momento questionamos a ação da Polícia Federal – disse o ministro. – Mas, da forma como foi apresentada à população brasileira, fomos pegos de surpresa.
Ele acrescentou que houve uma certa perplexidade.
– Não era possível que, depois de tanto trabalho, fôssemos pegos de calças curtas – afirmou ele, que participa de audiência conjunta da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), no senado.
Conforme Maggi, a estratégia acertada com o presidente Michel Temer, foi fazer um enfrentamento "claro, direto, transparente, eficiente e rápido para atacar os problemas que temos no momento".
Ele relatou aos senadores que o Brasil suspendeu as exportações de produtos dos 21 estabelecimentos que foram alvo da operação. Para o ministro, é natural que os países compradores reajam com alguma limitação nas importações. Os principais focos de preocupação, no momento, são China e Hong Kong, grandes mercados para os produtos brasileiros.
Maggi estimou que a operação causará prejuízos da ordem de 10% nas exportações brasileiras, que somaram US$ 15 bilhões no ano passado.
O ministro voltou a defender o sistema de controle sanitário do Brasil e afirmou que os problemas encontrados são pontuais. Ele salientou que o governo brasileiro tem informado os países consumidores sobre as providências adotadas pelo país. E que foi "muito bem recebida" a manifestação brasileira na reunião desta quarta da Organização Mundial do Comércio (OMC) que discutiu o problema.
*Estadão Conteúdo