O clima colaborou e Santa Catarina se prepara para uma boa safra da uva neste ano, depois de um 2016 decepcionante nas plantações. A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) estima uma colheita entre 70% e 80% melhor que a anterior, voltando ao patamar de 2015. Só não chega a ser uma supersafra justamente pela grande quebra da produção registrada no ano passado.
O fator decisivo para o otimismo em relação à uva é o fato de o clima ter sido bem definido nos últimos meses, com inverno frio, primavera e verão quentes e chuva em quantidade suficiente para o desenvolvimento da fruta.
– É uma safra de recuperação. Não excelente, mas boa. A videira sofre de um ano para o outro e 2016 foi muito ruim. Então, agora ela está se recuperando e a expectativa é que a safra seja ainda melhor em 2018 – diz o gerente de pesquisas da Estação Experimental da Epagri de Videira, Vinícius Caliari.
Atualmente, Santa Catarina tem cerca de 4,7 mil hectares de área plantada de uva, o que corresponde a aproximadamente 6% do país. Em 2015, foram 69,1 mil toneladas no Estado – pouco mais de 4,5% do resultado nacional. Mais ou menos 30% das uvas são viníferas, usadas para os vinhos finos ou de altitude. O restante é de frutas híbridas, para consumo in natura, sucos e vinhos de mesa.
Fruta tem importânciana agricultura familiar
Em Santa Catarina, a cultura da uva ganha importância pela agricultura familiar. A Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca calcula que possa chegar a 10 mil o número de famílias catarinenses que tem a fruta como atividade econômica e de sustento.
– A uva permite gerar grande renda em pequenas áreas. A uva de mesa é importante para a agricultura familiar. Já a europeia, para investimentos empresariais – diz o secretário adjunto de Agricultura Airton Spies.
No Sul do Estado, o destaque é a certificação dos Vales da Uva e Vinho Goethe, da Associação ProGoethe de Urussanga. Desde 2012, eles têm a Indicação Geográfica de Procedência (IGP) do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), um diferencial de produção no mercado vitivinícola.
No Sul, agricultores preveem 50% de crescimento na colheita da uva de mesa
A safra da uva de mesa, que começou em dezembro e vai até o início de fevereiro no Sul do Estado, tem deixado os produtores animados e oferecido um produto melhor para o consumidor. O clima ajudou, e a safra 2016/2017 será 50% maior do que a última.
Em Urussanga, segundo município com maior produção de uva no Sul do Estado, o trabalho não para. Arnaldo Masiero, produtor de frutas, contratou mais pessoal e está feliz com o resultado nos parreirais. Na propriedade, 17 hectares são dedicados à niágara rosada. Para este ano, a expectativa é colher 15 toneladas por hectare, enquanto a última safra não chegou a 10 toneladas.
– No ano passado deu 40% da produção, este ano vamos chegar a 70%. O que diferencia agora é qualidade de produto, sabor, está muito boa a uva. Para o consumo mesmo, até um cacho mais verde já está doce, o sol ajudou muito. Em função da qualidade, dá para comemorar – comenta o produtor.
O pesquisador da Epagri de Urussanga Emílio Della Bruna diz que a produção não será considerada uma supersafra, mas que a projeção é animadora em relação ao ano passado. A expectativa é colher 4,5 mil toneladas nos 300 hectares existentes no Sul, principalmente da uva niágara, além da híbrida goethe e da uva bordô.
– O clima ajudou muito. O inverno seco e frio fez com que as plantas brotassem bem e, com a primavera de bastante sol, a luz ajuda a desenvolver a doçura da fruta. O consumidor vai encontrar uma uva bonita e doce, além de muito aromática, com uma produção de alta qualidade – explica o pesquisador.
No Sul do Estado, a uva niágara é pouco usada para a produção de vinhos, mas é a preferida para o consumo in natura. Com cachos maiores, mais doces e perfumados, os produtores não devem ter dificuldade para escoar a produção. O consumidor encontrará uma uva mais barata, já que a oferta é maior, e com qualidade superior.
Vinícolas de SC projetam bom ano no campo
Além de toda a condição para o desenvolvimento das videiras, o clima bem definido neste ano deve ajudar na qualidade dos vinhos finos que serão produzidos na Serra catarinense. O presidente da Vinhos de Altitude Produtores Associados, Guilherme Grando, afirma que o cenário é positivo na região:
– O verão está com dias quentes e noites muito frias. Essa variação de temperatura (amplitude térmica) é muito positiva para o desenvolvimento das frutas.
A associação hoje tem aproximadamente 300 hectares de área plantada, 30 associados produzindo uva e cerca de 20 marcas de vinho no mercado. A expectativa é de colher 5 quilos por hectare e produzir 1,5 milhão de garrafas. A colheita começa em março e Grando projeta uma safra de grande qualidade:
– Talvez não tanto em volume, porque ano passado foi muito prejudicado pela geada tardia, mas houve boa recuperação da planta e a safra será de qualidade. Em volume, acredito que podemos chegar a um crescimento de até 90% em relação ao ano passado, já que houve áreas em que a produção foi completamente perdida.