Entre as principais formas conhecidas para a reversão de um ciclo econômico, a que parece mais viável para o país no momento é via investimento privado em infraestrutura, avaliam economistas. Na crise de 2008/2009, o governo federal conseguiu tirar o Brasil rapidamente da turbulência pelo consumo, estimulando crédito e fazendo desonerações para setores específicos da indústria. Esse caminho, agora, está bloqueado, tanto pelo alto nível de endividamento das famílias quanto pela impossibilidade de o Executivo abrir mão de receitas.
O desequilíbrio financeiro do governo federal também impede que os investimentos e gastos públicos sejam a mola da vez, como a tentativa à época do Programa de Aceleração dos Investimento (PAC). Pela indústria, havia a esperança de que o dólar a R$ 4 estimulasse as exportações. Com a cotação da moeda americana agora mais perto de R$ 3, é mais uma opção difícil de se tornar realidade. Investimentos das indústrias também são descartados devido à alta capacidade ociosa das fábricas.
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Para que os investimentos em infraestrutura deslanchem, no entanto, ainda há etapas a cumprir, observa Paulo Picchetti, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Além das regras do programa de concessões, seria necessário avançar com a agenda do ajuste fiscal para sinalizar que o governo ruma para o equilíbrio das contas, o que se refletiria na continuidade da queda do juro básico, tornando os projetos mais atrativos.
– Assim se criaria um ambiente bem mais favorável – diz Picchetti.
O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, vai na mesma direção:
– O que poderia reagir mais rapidamente seria o investimento, principalmente aquele que depende de privatizações, mas também de um cenário mais claro na área fiscal, o que pode levar a taxas de juro mais baixas. As famílias recém estão se desalavancando (saindo do endividamento) – avalia Freitas.
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Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, explica que há quatro etapas observadas na trajetória para se sair de uma crise: melhora no mercado financeiro, reação de indicadores de confiança, recuperação da demanda de crédito por consumidores e empresas e, por fim, a atividade em si. Os dois primeiros já apareceram, vide disparada da bolsa e queda do dólar e a melhora das expectativas quanto ao futuro, mas os outros ainda estão devendo.
– Estamos na fase dois, tentando passar para a três – define Rabi, que também aponta para a infraestrutura como o que poderá desencadear a busca por financiamento para os investimentos, já que pelo lado do consumidor o endividamento é um entrave.
Consumo
Possibilidade descartada agora pelo endividamento das famílias, desemprego em alta e crédito restrito.
Desonerações
Devido ao rombo nas contas do governo federal, a hipótese também não é viável.
Gasto e investimento estatais
Crise fiscal também impede governos de estimular economia desta forma.
Exportações
Chegou a ser esperança para a indústria quando o dólar chegou a R$ 4, mas agora com a moeda americana perto de R$ 3, perde força. Além disso, economia mundial fraca não gera demanda forte.
Investimento das indústrias
Difícil de ocorrer devido à grande capacidade ociosa das fábricas.
Investimento privado em infraestrutura
Considerado o caminho mais viável, mas depende das regras do programa de concessões e da confiança gerada pelo andamento do ajuste fiscal, o que possibilitará continuidade no corte do juro.
*ZERO HORA