Não foi somente de grandes empresas do setor de energia que o Badesul sofreu calote. A partir da política expansionista aplicada entre 2011 e 2014, pequenos e médios empreendimentos regionais também tomaram créditos com a apresentação de garantias frágeis. Mas o desfecho foi semelhante: inadimplência, pedido de recuperação judicial e desfalque nas contas do banco gaúcho.
É o caso da D'Itália Móveis, de Monte Belo do Sul, na Serra. A empresa pediu R$ 10 milhões ao Badesul por meio da linha Progeren, do BNDES, destinada a capital de giro. O comitê de crédito da agência de fomento atribuiu nota C à D'Itália, o que ainda fica dentro dos parâmetros de mercado de "qualidade de carteira". As operações de risco se concentram entre as classificadas nas letras D a H.
Em reunião de diretoria em 12 de março de 2013, conforme registrado em ata, somente a então diretora de Operações, Lindamir Verbiski, foi favorável à concessão do financiamento. O vice-presidente Pery Coelho votou contra "em função do rating (nota) da empresa".
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O terceiro diretor presente, Luis Alberto Bairros, também foi contrário. Em vez de declarar a rejeição, foi chamado novo encontro. Lindamir diz que na reunião posterior houve decisão unânime de seis diretores a favor da operação.
– O comitê de crédito havia condicionado o negócio à apresentação de garantias de 130%. Pedi aumento para 150% – afirma Lindamir.
Em abril de 2015, a D'Itália solicitou recuperação judicial. Das parcelas que devia ao Badesul, pagou apenas R$ 300 mil e, depois, entrou em inadimplência. Atualmente, considerados os encargos contratuais, a moveleira tem dívida de R$ 17,6 milhões com o banco controlado pelo governo estadual. As garantias aceitas no contrato foram frágeis.
Prova disso é que, no plano de recuperação judicial da D'Itália, o Badesul ficou entre os credores que não têm garantia real. A empresa havia ofertado como salvaguarda uma máquina usada e uma casa em Capão da Canoa.
O banco tenta executar a residência, mas encontra dificuldades porque ela não está em nome da fábrica.
– Foi dada uma garantia de terceiro, que não era exatamente da empresa. A casa está no nome da companhia dos meus filhos – explica Noemir Capoani, presidente da D'Itália.
Lindamir afirmou que o fato de a casa estar no nome de um sócio e não da empresa, "ao contrário do que parece, é um fortalecimento da garantia".
– Está à parte do patrimônio da empresa, não pode ser arrolada em processo de falência ou recuperação judicial. Isso é normal no mercado financeiro nos casos de micro e pequena empresa – justificou a ex-diretora.
Capoani explicou ainda como ocorreu a aproximação com a agência de fomento, que, no governo Tarso Genro, adotou prática agressiva de concessão de crédito.
– Foi a primeira vez que tomei empréstimo no Badesul. Eles estiveram em Bento Gonçalves, em uma palestra, dizendo que tinham verbas para emprestar. Aí levantamos o negócio. Falamos direto com o Marcelo Lopes, ele esteve duas vezes na nossa empresa – explicou Capoani.