O mercado reverteu expectativas de um pregão de disparada na bolsa e queda do dólar no dia seguinte à aprovação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. O Ibovespa, principal termômetro da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), terminou o dia em queda de 0,63%, aos 52.894 pontos.
As estatais, que costumam puxar para cima ou para baixo os negócios e foram os motores da alta da bolsa nas últimas semanas em razão da expectativa de mudanças em sua gestão em uma eventual queda do governo, tiveram desempenho fraco. As ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, caíram mais de 4%, enquanto os papéis do banco do Banco do Brasil tiveram queda superior a 2%.
Conforme Valter Bianchi Filho, sócio da Fundamenta Investimentos, o mercado já vinha prevendo o impeachment desde a homologação da delação premiada do ex-líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, dia 15 de março, o que levou muitos a anteciparem a compra de ações. Esse movimento levou a uma valorização das ações que tirou a bolsa dos 37 mil pontos em janeiro e levou até os 53 mil nos últimos dias.
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– Esta segunda foi o dia em que as expectativas se confirmaram, então os negócios já estavam feitos. É aquela regra de a bolsa subir no boato e cair no fato – diz Bianchi – O que o mercado aguarda agora é a divulgação dos nomes da equipe econômica de um eventual governo de Michel Temer.
A queda da bolsa nesta segunda também teve muita influência da economia externa. No domingo, países produtores de petróleo não chegaram a um acordo em Doha (Qatar) para congelar a produção e estancar a queda dos preços. Com isso, a expectativa é que a cotação do barril, hoje em torno de US$ 44, volte a cair, perseguindo o patamar anterior de US$ 30. Isso explica o mal desempenho das ações da Petrobras que contaminou a bolsa.
– Também foram divulgados neste final de semana números que apontam um crescimento mais fraco da China, e isso pode desacelerar o ritmo da economia mundial e o crescimento das empresas brasileiras – explica Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos.
O dólar, ao contrário da bolsa, subiu 2%. Chegou ao final de segunda-feira negociado a R$ 3,59 na cotação comercial. Pela manhã, logo na largada dos negócios, a moeda chegou a cair quase 1,5% em relação ao real, negociada a R$ 3,47, com o efeito imediato de uma eventual mudança na equipe econômica do governo.
Entretanto, o rumo mudou após o Banco Central (BC) anunciar leilão de swap reverso, equivalente a compra futura de dólares, de até 80 mil contratos. Na prática, o BC procura os dólares disponíveis no mercado e pressiona o preço para cima. Esse tipo de operação vem sendo repetida desde o final de março, quando a moeda saiu da casa dos R$ 4 e começou a cair.
– O Banco Central sinaliza que quer evitar um sobe-desce abrupto do dólar, e persegue um câmbio na casa de R$ 3,50 para favorecer a exportação – avalia Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Corretora.
Embora tenha um estoque alto de contratos ainda por oferecer, o BC não conseguirá utilizar o artifício indefinidamente, explica Silveira, portanto nas próximas semanas o dólar, livre, poderá cair. A expectativa do economista é que a chegada de uma quantidade maior de investidores estrangeiros ao mercado brasileiro derrube a moeda para R$ 3 nas próximas semanas.