O país fechou o trimestre encerrado em fevereiro superando a barreira simbólica de dois dígitos na taxa de desocupação, que alcançou 10,2% e vai continuar avançando ao longo do ano, avaliam economistas que estudam o mercado de trabalho. Pelo percentual, divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 10,4 milhões de desempregados.
Em relação ao período anterior de três meses, fechado em novembro de 2015, foram 1,3 milhão de pessoas a mais que perderam o emprego ou começaram a procurar colocação para tentar recompor a renda familiar. É como se, no trimestre encerrado em fevereiro, surgissem a cada dia, em média, 14,8 mil desocupados no Brasil.
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Com a ausência de sinais que mostrem possibilidade de o país reverter o quadro recessivo, a taxa de desemprego tende a chegar ao final do ano próxima de 12%, projetam especialistas. Para o economista Bruno Ottoni, pesquisador da área de mercado de trabalho na Fundação Getulio Vargas (FGV), a taxa média em 2016 deve ser de 11,5%. No final do ano, entretanto, alcançará 12,1% – elevando a massa de pessoas à procura de vagas para algo próximo de 12 milhões. A estabilização, avalia Ottoni, deve vir apenas em meados do ano que vem:
– A questão política pesa fortemente na economia, porque traz incerteza. Com isso, as empresas não investem e as pessoas não consomem. E o emprego é menos volátil do que outros fatores, como câmbio e inflação. Por isso, a demora (para gerar novos postos de trabalho) deve ser maior.
Para o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada, a desocupação só não é maior porque muitas pessoas que perdem vagas com carteira assinada estão buscando trabalhar por conta própria. A projeção da empresa é de que, ao final do ano, o desemprego alcance 11,7%. A piora, observa Bacciotti, já leva em consideração uma mudança no Palácio do Planalto, considerada positiva por melhorar as expectativas na economia.
– O mercado de trabalho vai se estabilizar apenas em 2017 e começar a crescer em 2018 – afirma Bacciotti.
Estudioso do mercado de trabalho, o professor da Unicamp Claudio Dedecca tem previsão mais pessimista. Para ele, chegar a uma taxa de 12% de desocupação seria inevitável e haveria chances até de o percentual atingir patamar bem maior em dezembro caso a eventual troca de governo vire decepção. Falta de clareza sobre propostas, medidas duras de ajuste fiscal que poderiam deprimir ainda mais a economia no curto prazo e continuidade da crise política poderiam agravar o quadro, avalia:
– Atingir uma taxa de dois dígitos gera efeito psicológico enorme. É como uma febre que chega a 40 graus. Olhando a tendência, podemos chegar a 14% ou 15%.
A taxa de desocupação no trimestre encerrado em fevereiro, de 10,2%, foi a maior da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012. Em 12 meses, o contingente de desempregados ganhou 3 milhões de pessoas.