Se a forte desvalorização do dólar na semana passada deixou, para muitos, a impressão de que a moeda americana poderia estar iniciando uma sequência de baixa, a alta desta segunda-feira, ainda que modesta, serviu para frustrar expectativas. Para quem tem viagem programada para o Exterior ou está pensando se é um bom momento para comprar, as recentes oscilações, puxadas principalmente pelas turbulências no cenário político, recomendam cautela extra, apontam especialistas.
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Mesmo que seja arriscado tentar antecipar o comportamento do câmbio, ainda mais em um cenário como o da economia brasileira, analistas não enxergam fundamentos para uma queda brusca da moeda no longo prazo. Para o economista e diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, o movimento observado na semana passada (o dólar comercial registrou a maior alta semanal desde 2008), influenciado pelos desdobramentos da Operação Lava-Jato, foi pontual, e está longe de indicar uma tendência no câmbio.
- O que se viu foi muita exacerbação misturada com especulação. Ocorreu um fato relevante, mas que não mudou em nada a situação econômica do país. Todo o quadro continua ruim - avalia Nehme. - A questão fiscal é tão ou mais importante que a política.
Na segunda-feira, em um dia de poucas novidades no cenário interno e externo, a moeda americana voltou a subir. A cotação do dólar comercial, referência para contratos de compras e vendas para o Exterior, encerrou o dia com alta de 0,88%, vendida a R$ 3,79. Nas casa de câmbio, onde o efeito das oscilações às vezes demora para acontecer, é possível encontrar dólar turismo sendo negociado abaixo de R$ 4 na venda - a cotação oferecida aos consumidores é sempre um pouco maior do que a praticada nos mercados financeiros.
Câmbio exige pesquisa como qualquer outro produto
Para o educador financeiro Jó Adriano da Cruz, da Dsop, que oferece consultorias relativas a finanças pessoais, o momento de baixa da cotação pode até ser bom para quem está querendo comprar dólar, mas é preciso tomar cuidado para não exagerar. Segundo ele, o mais importante para os consumidores, no cenário atual, é pesquisar boas oportunidades. Ele lembra que, além de variar de acordo com a oferta e a demanda e com oscilações do mercado, as cotações mudam entre as casas de câmbio e bancos.
- A compra de dólar é como de outros produtos. Tem de haver pesquisa. Agora, é um momento propício para quem estava esperando comprar um montante um pouco maior, mas não é recomendável gastar muito de uma vez só, mesmo que seja tentador. A melhor estratégia é sempre comprar gradualmente
- aconselha Cruz.
Tire suas dúvidas
Por que o preço do dólar está oscilando tanto?
No momento, o que mais impacta o valor da moeda americana no Brasil é o cenário interno. Após a calmaria nos mercados internacionais em fevereiro - ajudada pela valorização dos preços do petróleo -, março iniciou com desdobramentos importantes da Operação Lava-Jato, que afetam o mercado financeiro brasileiro. Tanto a suposta delação premiada do senador Delcídio Amaral quanto a condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor na Polícia Federal ajudaram a pressionar as cotações para os menores valores do ano na semana passada.
Que outros fatores têm influenciado altas e baixas na cotação?
Além dos acontecimentos internos, a cotação do dólar no Brasil é influenciada pelo comportamento da divisa no mundo. Quando os preços do petróleo desabaram em janeiro e cresceram as preocupações com a desaceleração da economia da China, o valor da moeda subiu globalmente, inclusive aqui. Em fevereiro, o que se observou foi uma recuperação nos preços das commodities, que trouxe tranquilidade aos mercados globais. Quando há calmaria, os investidores deixam de aplicar seus recursos no dólar e migram para aplicações de maior risco,
o que faz o dólar cair.
Agora é um bom momento para comprar?
Com cautela, sim. A recomendação dada pelos especialistas em finanças pessoais é sempre a mesma: comprar aos poucos e em pequenas quantidades. O educador financeiro Jó Adriano da Cruz explica que, ao adquirir dólar gradualmente, esperando momentos de alívio da cotação e pesquisando com antecedência os valores cobrados pelas casas de câmbio, é possível conseguir um bom preço médio da cotação. O momento atual, de baixa da moeda é, na opinião do educador financeiro, uma boa oportunidade para comprar um montante um pouco maior.
Mas qual deve ser o comportamento nos próximos meses?
Prever o comportamento do câmbio é extremamente difícil, justamente porque envolve muitas variáveis, internas e externas. Entre especialistas e analistas de mercado, a percepção é de que há uma tendência de alta gradual do dólar no Brasil. Na opinião de Sidnei Nheme, da NGO Corretora, mesmo com os desdobramentos da Lava-Jato agitando o meio político, faltariam fundamentos econômicos para justificar uma queda da moeda no longo prazo. Os economistas consultados semanalmente pelo Banco Central no Boletim Focus, atualmente, apostam que o dólar encerre o ano no patamar de R$ 4,30.
É possível negociar taxas?
Cruz lembra que comprar dólar é o mesmo que comprar qualquer outro produto. Então, é possível conseguir descontos na base da barganha. A dica é fazer uma espécie de leilão. Ligue para o máximo de casas de câmbio possível para comparar as diferentes taxas. Antes de ligar, vale consultar o Ranking do Banco Central pelo link zhora.co/rankingbc, que mostra quais foram os bancos e casas de câmbio com as melhores taxas nos últimos meses. Isso pode nortear a pesquisa e ajudar a conseguir preços melhores.
Por que existe diferença de preço entre corretoras?
O dólar turismo, que é o vendido aos consumidores nas casas de câmbio, é formado pelo valor da moeda no mercado à vista mais uma comissão que varia de 1,5% a 20%, dependendo da quantidade de moeda comprada. Por isso, é preciso pesquisar em vários lugares antes de comprar.
Tenho compras no cartão de crédito em dólar. Qual a cotação que vale?
A cobrança é sempre feita com base no valor da cotação do dólar no momento do fechamento da fatura. Como o movimento da moeda é imprevisível - ainda mais neste cenário -, é recomendado evitar o uso do cartão de crédito, a não ser em caso de emergências.
Mas o que é melhor? Usar o Cartão ou dinheiro vivo?
Em termos financeiros, a compra de cédulas é mais atrativa. Enquanto no cartão de crédito ou no pré-pago é cobrada uma alíquota de 6,38% de Imposto sobre Movimentação Financeira (IOF) para transações, a compra de dólar em espécie é taxada em apenas 0,38%. Contudo, aponta Jó Adriano da Cruz, é importante levar em conta outros aspectos, como segurança. Cruz aconselha os consumidores a variarem, dando preferência para a compra de notas e de cartões pré-pagos.
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