Coordenador do mestrado profissional em Economia e Direito da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, Rogério Mori ensina há anos a seus alunos a lição básica da administração macroeconômica: despesas maiores que receita são o melhor caminho para o desequilíbrio. Mesmo parte do grupo de economistas que esperava a perda do grau de investimento do Brasil, Mori admite que se surpreendeu com a rapidez. E adverte que não adianta, agora, lembrar da má fama das agências de classificação de risco desenvolvida durante a crise americana. A avaliação pode ser subjetiva, mas é um reflexo de como o Brasil é visto lá fora.
O rebaixamento era esperado, mas veio antes do esperado?
Não era esperado para tão cedo, mas a questão do orçamento enviado com previsão de déficit antecipou esse movimento. O governo sinalizou que não tinha compromisso firme em realizar o ajuste fiscal. A S&P, no começo do ano, deu uma espécie de waiver, um tempo para o Brasil reverter a politica econômica que havia sido adotada no primeiro mandato desse governo. A minha sensação é de que esse orçamento foi uma sinalização para agências de que não há disposição do Executivo em fazer um ajuste maior.
As outras agências vão acompanhar a Standard & Poor's?
É muito provável que tenha o alinhamento. Quando o país perde o grau de investimento de duas agências, os fundos institucionais que aplicam aqui saem automaticamente? Sim, isso é obrigatório. Boa parte desses fundos tem seus regulamentos mandatórios. Se perde o grau, ele deve tirar o dinheiro desse ativo. Isso ocorre independentemente de o investidor achar que o país tem uma boa rentabilidade.
Tem um prazo para isso ocorrer?
Esses fundos devem fazer a realocação o mais rápido possível. Têm de fazer esse movimento da forma mais breve possível. Eu acredito, inclusive, que uma parte dos fundos já deve ter retirado o dinheiro do Brasil.
Além da alta do juro e do dólar, o que mais essa perda pode trazer para a economia?
Recessão, mais recessão. O PIB brasileiro deve recuar entre 2,5% e 3% neste ano, e agora, cair também no ano que vem. ~
O grau de investimento é recuperável?
É, mas desde que se faça uma mudança fiscal bem sólida. No atual governo é bem difícil de ser executado, dada a situação política. Acho difícil recuperar o selo em, pelo menos, um espaço de alguns anos.
Tem um prazo para que outras agências se alinhem no grau especulativo para o Brasil?
Acho que deve ocorrer em breve. Tendem a reagir em pouco tempo. Em um ou dois meses ou até menos tempo.
O fato de o Brasil ter sido rebaixado significa que o país corre risco imediato de não honrar seus compromissos?
Não corre esse risco imediato. O que há é uma perspectiva de que a dívida publica vá aumentar, porque o governo não está conseguindo fazer superávit primário.