Como se sabe, a China não é uma democracia, mas flerta com a economia de mercado - em termos. Da última vez em que a bolsa de Xangai tremeu, em julho, quando as preocupações estavam ainda focadas na Grécia, a saída foi à antiga: a polícia foi chamada, enquadrou especuladores e a bolsa retomou alguma normalidade. Até a Segunda-Feira Negra.
Ao tombo estrondoso em Xangai, seguiram-se tropeções históricos - proporcionalmente, pregões menos voláteis tiveram impacto maior do que no Brasil. Os Estados Unidos passaram por um dia de proporções dramáticas: nunca antes na história americana havia ocorrido perda de mil pontos no índice mais tradicional, o Dow Jones, em um só dia - nem na crise de 2008. Na Europa, as profundas quedas cortaram ganhos de 450 bilhões de euros em um só dia. Tudo porque o governo chinês não havia adotado as medidas de estímulo esperadas no final da semana.
E depois de espalhar estragos e temores pelo planeta, o que fez o governo chinês ontem? O que o mercado esperava para o final de semana: reduziu o juro e o depósito compulsório. O juro básico foi cortado em 0,25 ponto percentual, pela quinta vez em nove meses, para 4,6% ao ano. E o compulsório foi reduzido em meio ponto percentual, exatamente como se esperava no final de semana.
Alívio geral? Mais ou menos. A Europa se recuperou, mas nos Estados Unidos a reação foi menos animada. Entre as novas interrogações - a cada dia se acumulam mais -, surgiu a seguinte, também impensável semanas atrás: teria o governo chinês perdido o controle da economia relevante mais centralizada do planeta?
Na Europa, a avaliação é de que a reação foi exagerada, porque por lá a exposição a um eventual Risco China é menor. Mas o impávido dragão que, nas crises de 2008 e 2011, fez parte da solução, agora é, indiscutivelmente, parte do problema. Se o que está ocorrendo é o estouro de uma bolha ou um movimento mais benigno, de correção, ainda é preciso verificar. Mas é má notícia para quem tem na China o principal parceiro comercial.