A conta é de parte interessada, portanto deve ser lida com cautela. Mas é instigante, por isso vale a pena ser reproduzida. Nos cálculos de José Ricardo Roriz Coelho, diretor de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o juro na última casa dos 13% ao ano consumirá um valor 4,5 vezes maior do que o corte de R$ 69,9 bilhões feito no orçamento público. Roriz é "parte interessada" por ser empresário, que tem seus custos também elevados em decorrência da elevação da taxa básica.
Ocorre que, quando sobe o juro básico, aumenta a remuneração de quem investe em títulos públicos. Ou seja, muito bom para quem tem sobra de dinheiro para investir em renda fixa, mas de fato cresce a despesa do governo com juros. Em março, a dívida pública alcançou R$ 2,44 trilhões. Na simulação de Roriz, ao aplicar a Selic sobre esse montante, o desembolso seria de R$ 317 bilhões para pagar juros neste ano. É a maior despesa federal, superior às verbas de todos os ministérios e programas.
Para não entrar no discurso fácil da "auditoria da dívida pública", é bom lembrar que os credores do governo são, em sua maioria, os cidadãos brasileiros que seguiram os conselhos dos manuais de finanças pessoais e conseguiram separar um pouco do que ganham para aplicar em títulos de renda fixa, formados em sua maior parte por dívida do governo federal. É claro que, entre esses aplicadores, estão grandes fundos internacionais que se beneficiam da necessidade do governo de captar recursos e girar sua imensa dívida. Mas há, também, pessoas físicas que abdicam de consumo hoje em nome da poupança para amanhã.
Quando levou a taxa básica a 7,25% ao ano, em outubro de 2012, o próprio governo acreditou no discurso "baixe o juro que eles (os investimentos privados) virão". Não vieram. Havia desconfiança, porque os indicadores não sustentavam a estratégia. Esse é um dos motivos pelos quais o Banco Central agora aumenta o preço do dinheiro. Precisa reconquistar a confiança e mostrar compromisso com a inflação baixa antes de pensar em flertar de novo com um juro mais camarada.