A queda média de 13% do Índice de Confiança da Indústria (ICI) no segundo trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores sugere que a produção física industrial brasileira deve registrar retração acima de 2% no segundo trimestre deste ano, prevê o superintendente adjunto para Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vagas (FGV), Aloisio Campelo Júnior. Caso se confirme, o economista destaca que será o oitavo trimestre consecutivo de queda do indicador.
- Considerando que o Nuci (Nível de Utilização da Capacidade Instalada) e o ISA (Índice de Situação Atual) estão caindo, é muito provável que a indústria tenha mais um trimestre de queda, o que, pela série atual, seria a oitava queda - afirmou o executivo.
Pelos cálculos do Ibre feitos por carregamento estatístico, a produção física da indústria em geral deve recuar 2,1% no segundo trimestre deste ano, na margem, enquanto a produção apenas da indústria de transformação deve tombar 2,4% no período.
Em junho, o Índice de Confiança da Indústria brasileira caiu 4,9% ante maio, ao passar de 71,6 para 68,1 pontos, o menor nível da série histórica, iniciada em abril de 1995. Em relação a junho de 2014, o recuo foi de 22%.
Campelo ressaltou que o resultado, o pior em 20 anos, é menor até mesmo do que os registrados durante a crise financeira mundial de 2009, quando a confiança atingiu 74,1 pontos em janeiro, e na crise russa de 1998, quando o ICI registrou 69,5 pontos em outubro daquele ano.
O economista destacou que, apesar de a queda do índice que mede a situação atual (ISA) ter sido mais forte em junho (5,6% na margem, para 70,4 pontos), o recuo do Índice de Expectativas (IE) chama mais atenção. No sexto mês do ano, o indicador se retraiu 4,2%, na variação mensal, para 65,8 pontos - assim como o ISA, o menor da série histórica. "Podem até aparecer boas notícias, mas, no momento, parece que a indústria não tem a visão de que, em um horizonte de 3 a 6 meses, vai acontecer algo que vá mudar o quadro", comentou Campelo.
O superintendente avaliou que a piora nas expectativas é resultado de uma combinação de fatores, como demanda fraca; acúmulo de estoques; "certa" compressão das margens de lucro, em razão de custos internos mais altos e da inflação, e maior dificuldade de acesso a crédito. Somam-se a isso, acrescentou, avaliações negativas em relação às perspectivas de melhora no ambiente de negócios nesse período, riscos no ambiente político e uma "demora maior que a prevista de aproveitamento do câmbio mais desvalorizado".