Ainda na manhã de quinta-feira, antes da que seria a rodada decisiva de negociação com a Petrobras, a QGI (ex-Quip) começou a demitir mais de uma centena de funcionários fixos, em Rio Grande e no Rio de Janeiro. A empresa, pioneira no polo naval de Rio Grande, trava uma batalha com a estatal em torno de valor de aditivos e prazos para a montagem de duas plataformas de petróleo, a P-55 e a P-77.
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O valor do contrato é de US$ 1,6 bilhão, e o impasse está em torno de 8% do total. Entre os demitidos, estão funcionários administrativos, engenheiros e pessoal de compras, por exemplo. O pessoal da obra não havia sido contratado. A empresa previa criar 4 mil vagas em Rio Grande com as novas plataformas. A empresa não comenta oficialmente o caso, mas interlocutores da direção ouviram que, sem um gesto da Petrobras, vale a decisão tomada no início de fevereiro de desistir da obra.
A síndrome das plataformas encalhadas
Não bastasse o impasse com a QGI, controlada pela Queiroz Galvão, uma das empreiteiras envolvidas na Lava-Jato, na quinta-feira a nova etapa da operação prendeu o suposto lobista Milton Pascowitch. Conforme a investigação, ele seria o principal interloculor do braço da Engevix que opera a Ecovix em Rio Grande.
Filho de rio-grandinos, Pascowitch nasceu em Porto Alegre mas deixou o Estado criança, com a família. Em autorização para busca e apreensão de documentos, em dezembro, o juiz Sergio Moro afirma que ele "atuou como operador financeiro da empresa Engevix e do Estaleiro Rio Grande (ERG), efetuando transferências da offshore MJP International Group, no Banco UBS AG, nos Estados Unidos, para a conta da offshore Aquarius Partners Inc". A segunda pertenceria ao ex-diretor da Petrobras Pedro Barusco.
Pioneira do polo naval de Rio Grande está em risco
Como Pascowitch é sócio, com o irmão José Adolfo, na Jamp Engenheiros Associados, que pagou R$ 1,45 milhão à empresa de consultoria de José Dirceu, sua prisão é vista como uma tentativa de aproximar a investigação do ex-ministro. Em quebra de sigilo, foi detectada transferência total de R$ 45,8 milhões para Engevix para a Jamp. E fragiliza o ERG, que já enfrenta dificuldades por conta do suspensão de repasse da Caixa de R$ 63 milhões.
Prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindemeyer diz estar "triste mas esperançoso" de que uma solução seja encontrada para os dois estaleiros da cidade. No ERG, uma das saídas seria a transferência do controle para os sócios japoneses, que têm 30% do capital do estaleiro.