O mercado já ensaiava uma febre especulativa quando uma conveniente entrevista coletiva do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, baixou a temperatura. Disciplinado, assegurou aos microfones que o corte no orçamento é importante e foi executado de forma cuidadosa.
Havia sido um final de semana tenso. Depois de marcar sua ausência - com direito a placa de identificação à frente de um lugar vazio - no anúncio das tesouradas anunciadas pelo colega do Planejamento, Nelson Barbosa, o fiador do ajuste fiscal se tornou alvo de especulações sobre sua continuidade no cargo. A tese da gripe foi reforçada com relatos de medicamentos consumidos pelo paciente, mas só o próprio Levy, com um atestado de adesão ao plano, seria capaz de estancar o contágio da desconfiança.
Não se sabe quem levou chazinho ao ministro da Fazenda no final de semana, mas ele se apresentou sorridente e descongestionado ontem. Cumprido o ritual para aplacar a exaltação, tentativas de interpretação da ausência seguem alvo de diagnósticos, até porque as causas ainda não tiveram profilaxia.
Além do tamanho do corte, o tom das projeções econômicas de auxiliares da presidente Dilma Rousseff teria motivado o impasse na Esplanada. O excesso de otimismo de Barbosa, prometendo recuperação já no segundo semestre, surpreendeu a quem costuma ouvir Levy. Como bem sabe o ex-ministro Guido Mantega, o mercado pune quem promete um mundo cor de rosa e não entrega.
E ainda resta a rejeição do PT, partido do governo, a seu próprio projeto de redenção. Ajuste não se faz por boniteza, mas por precisão, parafraseando um dos escritores preferidos de Dilma Rousseff, Guimarães Rosa. Em vez da oposição, são aliados que pedem, publicamente, a cabeça do ministro encarregado de viabilizar o mandato.