Tão folclórico como simbólico, o episódio dos ratos (ou roedores) soltos durante depoimento da CPI da Petrobras dividiu as atenções internacionais sobre Brasil, nesta quinta-feira, com uma visão mais técnica - nem por isso, menos sintomática - destes tempos difíceis.
A agência de classificação de risco Fitch manteve a atual nota para a dívida pública do Brasil em BBB, mas colocou o país em perspectiva negativa. Em idioma de rating - atividade de medir a ameaça de calote -, isso quer dizer que há chance superior a 50% de rebaixar o conceito em até 24 meses. No balanço da agência, contribuíram para a perspectiva negativa a "deterioração fiscal" - desequilíbrio das contas e endividamento crescente - e a fraqueza na atividade produtiva. Mas a nota foi mantida porque a economia é diversificada, as instituições são fortes e o país tem reservas capazes de absorver choques.
Ainda importantes apesar da sacudida na imagem no estouro da crise, em 2008, as agências de classificação de risco seguem com poder considerável no mercado financeiro global. Se um país não tem, de duas das três grandes, um selo de qualidade conferido pelo conceito de grau de investimento, vários fundos ficam impedidos de aplicar recursos.
Empresas de intermediação de negócios e escritórios de direito empresarial relatam o crescente interesse de estrangeiros no Brasil. Ainda há boa folga de caixa no Exterior, e a desvalorização do real deixou ativos baratos no Brasil - sem contar que muitas empresas brasileiras ficaram mais expostas a propostas desde que a economia travou, no ano passado.
Em vez de adicionar ratos e urubus, como fez Joãozinho Trinta em 1989, quando a autoestima dos brasileiros também andava em baixa, a melhor atitude para que o período de aperto dure e impacte menos é limpar o cenário de figuras que vivem à sombra e se aproveitam de tecidos em decomposição. Torcer contra aprofunda a crise.