Tido como um diplomata na briga pelo poder entre PT e PMDB, o vice-presidente Michel Temer saiu do personagem nesta segunda-feira em Lisboa. Além de elogiar o ajuste fiscal de Portugal, disse que pretende levá-lo como exemplo para o Brasil. Em outros tempos, a presidente Dilma Rousseff foi muito crítica em relação aos programas de ajuste dos países europeus, especialmente os mais atingidos pela crise originada ainda em 2008/2009.
Se há relativo consenso de que restaram poucas opções ao Brasil a não ser o caminho do aperto - há vozes isoladas que divergem da necessidade do ajuste - também há esforço para demonstrar que é correção, não uma radical mudança de rumo.
E a súbita adesão de Temer ao aperto português ocorre justo no momento em que voltou a aparecer o fantasma do calote na Grécia, outro dos países "periféricos" da Europa submetidos a políticas de austeridade que abalaram do mercado de trabalho privado às vagas no serviço público, da renda interna à arrecadação do governo.
Nos dois países europeus, um dos efeitos mais notáveis do aperto na economia foi a substancial mudança na política. Tanto em Portugal quanto na Grécia, às medidas de ajuste seguiu-se a troca de turno do governo.
Em Portugal, a austeridade voltou a elevar os níveis de pobreza e exasperou os cidadãos. Na Grécia, os qualificativos para a situação da dívida pública voltaram a escalar graus de dramaticidade nos últimos dias: caos, abismo, "momento Lehman" (banco que quebrou em 2008, nos EUA e arrastou consigo boa parte da riqueza virtual dos mercados). Não foi uma boa hora para falar em corda em casa de enforcado.