O mercado, que não demora para responder nestes dias agitados, mostrou cedo sua reação ao nome de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras. As ações caíram de forma acentuada assim que a informação chegou às mesas de negociação. E aprofundaram a queda a partir da confirmação oficial da nova diretoria. Na metade da tarde, menos de uma hora antes do fechamento, despencavam 8,5%.
A conta é simples: o mercado queria um nome capaz de olhar mais as necessidades da empresa do que as do governo. O perfil de Bendine não é esse. Considerado muito próximo da presidente Dilma Rousseff, é visto como uma gestão de continuidade de práticas mal vistas pelo mercado quando a maior estatal brasileira necessitava de uma ruptura.
Na lógica dos investidores, a escolha é transformada em dígitos, como resume Wagner Salaverry, sócio-diretor da Quantitas:
- Vai sair mais caro.
Muito dependente de financiamento interno e externo para sustentar seu pesado programa de investimentos - a previsão para 2015 era de R$ 83,4 bilhões antes que a gestão anterior anunciasse que iria reduzir o previsto ao "mínimo necessário" - a Petrobras precisa contar com a boa vontade dos investidores. Não se trata apenas do valor das ações, mas de quanto terá de oferecer como remuneração se quiser captar mais recursos. Uma semana antes de apresentar sua renúncia, Graça Foster afirmou que, neste ano, a estatal não necessitaria de mais captações. Mas essa não é uma estratégia sustentável para muito mais além.
Ontem, um candidato a uma das diretorias vacantes admitiu à coluna +Economia que estava "difícil de arrumar quem queira". Com a perspectiva de quem se preparava para assumir um cargo com passivo judicial, admitiu que a questão da responsabilização judicial é um complicador. Embora os novos gestores não devam ser responsabilizados por "malfeitos" - como costuma dizer a presidente Dilma - nos casos que já "performaram completamente", ou seja, não têm desdobramentos, como a compra da refinaria de Pasadena, não haveria o risco. No entanto, haveria sim possibilidade de eventual implicação em ações referentes a projetos em desenvolvimento, como a construção da refinaria Abreu e Lima, em Recife, e do Comperj, no Rio de Janeiro.