Depois de cancelar a ida ao Fórum Econômico Mundial, a presidente Dilma Rousseff deixou a missão de convencer a elite empresarial do mundo de que o Brasil ainda é um bom investimento para Joaquim Levy. Caberá ao novo ministro da Fazenda explicar aos executivos reunidos em Davos, na Suíça, não apenas as razões do ritmo lento da economia nos últimos quatro anos mas também os escândalos de corrupção envolvendo a maior estatal do país.
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Mas na edição de 2015 de um evento que define o debate global, o Brasil não é o único país sob risco. A queda do preço do barril de petróleo - para a metade do que valia um ano atrás -, o recuo no valor das commodities e a qualidade do mercado de trabalho são alguns dos temas que afetam o Brasil e dezenas de outras economias mais ou menos desenvolvidas.
E, neste ano, os problemas econômicos vão dividir espaço com questões geopolíticas. Os estragos recentes do terrorismo na França, na Nigéria e no Oriente Médio devem dominar parte do debate, que também terá fortes componentes ambientais e de gestão.
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A delegação brasileira que rumou à Europa tem 40 integrantes - quatro a mais do que no ano passado, quando Dilma compareceu ao evento. Entre os representantes do governo, estão ainda o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), Marcelo Néri.
Patrocinadora do fórum, a Petrobras, que em 2014 foi representada por sua presidente, Graça Foster, e pelo diretor financeiro da companhia, Almir Barbassa, desta vez não enviou ninguém do primeiro escalão.
- O ministro Levy leva ao fórum o tom de mudança deste segundo mandato de Dilma. Mensagem que a própria presidente não conseguiu transmitir no ano passado. Apesar das concessões de aeroportos e rodovias, o Planalto ainda tem a imagem de um governo intervencionista na economia - avalia Fernando Botelho, economista da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em economia internacional.
Medida amarga para o contribuinte, o aumento de impostos anunciado no início da semana deve ser visto com bons olhos por investidores estrangeiros - até porque já foi adotado pelos países europeus que ainda lutam para sair da crise. O pouco compromisso com austeridade fiscal era apontado como uma das principais falhas da gestão petista.
O enxugamento de gastos, no entanto, não deve melhorar a situação de todo. O Brasil tem grandes desafios para 2015, como a inflação ameaçando romper o teto da meta e o crescimento beirando zero. Os investidores presentes estarão ansiosos para ouvir Levy, que diferentemente do antecessor na pasta, costuma falar pouco.
Entre os representantes do setor empresarial brasileiro, estarão presentes Roberto Setubal, presidente do Itaú-Unibanco, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, André Esteves, presidente do banco BTG Pactual, e Frederico Curado, presidente do conselho de administração da Embraer.
- É uma vitrine que o Brasil tem para reconquistar o interesse do mercado. Ninguém melhor do que Levy para dar o recado. Tem perfil técnico e liberal - afirma Oliver Stuenkel, especialista na política externa do Brasil da Fundação Getulio Vargas.
Pesquisa anual da consultoria Pricewaterhouse Coopers (PwC) com 1,3 mil executivos mostra que o Brasil vem perdendo espaço no plano de negócios de grandes companhias nos próximos
12 meses. O país figura em quinto lugar, ainda à frente de concorrentes como Índia e México, mas duas posições abaixo do que dois anos atrás. Na dianteira, Estados Unidos, China e Alemanha.
No ano que começou com o choque do atentado em Paris, causa menos espanto que, pela primeira vez em 45 anos de Fórum Econômico Mundial, as principais ameaças para o mundo em 2015 sejam geopolíticas, não econômicas. Confira abaixo os riscos considerados mais prováveis para o mundo e seus possíveis desdobramentos no Brasil. Até a crise hídrica, que provoca por aqui restrições ao acesso à água e à energia, aparece entre os problemas atuais
Conflitos multilaterais
Disputas bilaterais ou multilaterais entre Estados ou regiões por motivos econômicos, militares ou sociais. Um dos exemplos é a tentativa de impor o Estado Islâmico em territórios tanto da Síria quanto do Iraque.
Brasil: o perigo é pouco provável no país. No relatório de riscos globais, a organização do fórum lembra que a anexação da Crimeia pela Rússia é um lembrete contundente das consequências de conflitos regionais.
Eventos climáticos extremos
Danos ambientais ou perdas humanas causadas por tempestades e furacões têm se tornado mais frequentes e imposto prejuízos sociais e econômicos.
Brasil: o país não costuma ser palco desse tipo de evento. O relatório chama atenção para os riscos no leste da Ásia, em regiões próximas ao Japão e a Coreia, dois países de grande desenvolvimento tecnológico.
Falha na governança nacional
Crimes como corrupção e tráfico, mais impunidade e impasses políticos não são exclusividade de países em desenvolvimento. Escândalos ocorreram em várias latitudes, evidenciando necessidade de maior controle.
Brasil: apesar da aprovação de leis de combate à corrupção e de transparência na administração pública, imagem do país se deteriorou com o escândalo da Petrobras. O país está estagnado em levantamento da Transparência Internacional, na 69ª posição em uma lista de 175 países.
Crise ou colapso do Estado
Violência interna, instabilidade regional ou global, golpe militar ou conflitos civis evidenciam crises ou, em casos mais extremos, o colapso de Estados.
Brasil: não é citado no relatório do fórum como vulnerável a esse tipo de ameaça. O tema ganhou atenção no debate devido ao aumento de conflitos envolvendo o Estado Islâmico durante 2014.
Desemprego
Nível elevado nas taxas de desemprego ou subutilização da capacidade produtiva da população que já está ocupada é uma realidade que incomoda na Europa.
Brasil: o país tem baixo desemprego, mas há dúvidas se o cenário permanecerá igual se a economia mantiver o ritmo de baixo crescimento dos últimos anos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê que a taxa de desocupação no Brasil deve continuar crescendo nos próximos dois anos e atingir 7,1% em 2015 e 7,3% em 2016.
Catástrofes naturais
Danos ambientais ou perdas humanas causadas por desastres como terremotos, atividade vulcânica, deslizamentos de terra, tsunamis ou tempestades geomagnéticas.
Brasil: deslizamento de terra provocado por enchentes é a catástrofe natural mais comum no país, que não costuma registrar atividade vulcânica nem terremotos de grande intensidade.
Mudança climática sem reação
Os governos e as empresas não conseguem cumprir ou promover medidas eficazes para proteger a população e ajudar negócios afetados pelas mudanças no clima do planeta.
Brasil: a estratégia sobre mudança climática está focada em dois documentos - Plano Nacional sobre Mudança do Clima e lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima. A migração da população rural do semiárido nordestino, fortemente impactado pelo clima, para o Sudeste do país, é citada no relatório do fórum.
Crise hídrica
Declínio significativo na quantidade de água doce e na qualidade do abastecimento, resultando em efeitos nocivos para a saúde dos seres humanos, com grave consequências para atividade econômica.
Brasil: no país dono de uma das maiores reservas de água doce do planeta, parte da população está sendo obrigada a enfrentar racionamento de água e temor de escassez de energia. Entre as causas apontadas por especialistas, está a falta de chuva e a má gestão de recursos.
Fraude ou furto de dados
Exploração criminal de dados comerciais e oficiais patrocinada por Estados ou pela iniciativa privada.
Brasil: o país não aparece no relatório como um alvo potencial. A nação mais ameaçada por ataques cibernéticos para furto de dados comerciais ou oficiais é os Estados Unidos, que se envolveu em polêmicas desse tipo com a China e a Coreia do Norte nos anos anteriores.
Ciberataques
Ataques virtuais patrocinados por criminosos ou terroristas podem danificar a infraestrutura de acesso à rede de computadores ou causar perda de confiança na internet.
Brasil: não figura entre os principais alvos terroristas. Na América Latina, no entanto, é o país que mais recebe ataques criminosos, segundo dados da consultoria Kasperky Lab. Quase 30% dos usuários da internet do país foram vítimas de algum tipo de investida maliciosa.
Rostos conhecidos
Nem Sharon Stone nem Bono Vox estarão presentes nesta edição do Fórum Econômico Mundial, conhecido por unir poderosos a famosos nos picos nevados que emolduram o livro A Montanha Mágica, de Thomas Mann. Além de donos de suculentos nacos do PIB mundial, ao menos 40 chefes de Estado e de governo participam do encontro, que deve ter 2,5 mil líderes do mundo dos negócios. Confira algumas das celebridades presentes:
Marissa Mayer, presidente do Yahoo, vai debater futuras revoluções tecnológicas e científicas com Jack Ma, fundador da plataforma de vendas online Alibaba.
Bill Gates, o bilionário fundador da Microsoft , acompanhado da mulher, Melinda, participa de painel sobre desigualdade de renda e desenvolvimento social com o brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Sheryl Sandberg, a poderosa diretora de operações do Facebook, é conhecida por criticar a desigualdade entre os gêneros nos ambientes de trabalho.
Eric Schmidt, presidente-executivo da Google, também deve se manifestar sobre o futuro da tecnologia. Ataques virtuais e proteção de dados são dois dos grandes temas desta edição do fórum.