Com os pátios das fábricas abarrotados e as vendas de automóveis em queda, pelo menos 11 montadoras já anunciaram medidas para diminuir a produção no país, como férias coletivas, na tentativa de reequilibrar a oferta com o apetite do consumidor.
Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indicam que, no final de março, os estoques eram equivalentes a 48 dias de vendas, volume semelhante ao de novembro de 2008, um dos períodos mais agudos da crise financeira. Estima-se que o tamanho ideal de reserva seria de 23 a 32 dias.
Além do desaquecimento da economia e do endividamento das famílias, contribuíram para a situação a queda das exportações para a Argentina e o aumento da produção das montadoras nos últimos meses de 2013, diz Milad Kalume Neto, executivo da consultoria Jato Dynamics no Brasil, especializada no segmento automotivo.
- As fabricantes aceleraram a produção no final do ano passado porque a partir de 2014 seria obrigatório que os automóveis viessem com freios ABS e airbag. Com isso, os veículos ficariam em média R$ 1,1 mil mais caros. Em janeiro e fevereiro houve muita venda desse estoque antigo, mas em março o mercado despencou - explica Milad.
No mês passado, o emplacamento de automóveis nacionais novos caiu 16,5% em relação a março de 2013, enquanto a produção retraiu 16,7%. Milad lembra que em julho termina a retirada escalonada dos incentivos fiscais de IPI, o que tornará os veículos ainda mais caros.
Por ser um ano eleitoral, o especialista ainda espera medidas do governo federal, sob pena de demissões na indústria. Com a alta da Selic, dificilmente a saída seria reduzir juros ao consumidor. A alternativa poderia ser facilitar acesso ao crédito.
Na unidade da General Motors (GM) no Rio Grande do Sul a situação é melhor, mas a montadora avisou que haverá parada de dois dias de produção, embora não tenha confirmado datas, revela Edson Dorneles, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí. A entidade chegou a ameaçar uma greve, mas desistiu na quinta-feira.
Na contramão do mercado nacional, as vendas dos dois veículos produzidos na planta gaúcha, Onix e Prisma, aumentaram na passagem de fevereiro para março.
- Mas visualmente dá para perceber que há muito carro no pátio. Temos receio porque não somos uma ilha - afirma Dorneles.
Enquanto o mercado interno ainda demonstra procura pelos veículos leves produzidos no Estado, os primeiros sinais do ano quanto às exportações gaúchas são preocupantes. O sistema de consulta do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostra que, na comparação do primeiro trimestre de 2013 com o período equivalente deste ano, os embarques de automóveis caíram de US$ 42,3 milhões para US$ 9 milhões.
Barreiras argentinas emperram exportações
O quadro reflete principalmente as barreiras impostas pela Argentina, destino de quase toda a exportação gaúcha de automóveis no ano passado. O cotejo dos dois trimestres mostra que as vendas para o país vizinho murcharam de US$ 40,7 milhões para apenas US$ 1 milhão. Em unidades, a queda foi de 5 mil veículos para somente cem.
Apesar das exportações, o Índice de Desempenho Industrial (IDI) do setor de veículos - que engloba automóveis, caminhões, ônibus e autopeças - aponta para uma situação razoável pelo menos até o primeiro bimestre.
O Indicador da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) mostra em fevereiro um nível de atividade positivo em relação a janeiro, na comparação com o mesmo mês do ano passado e em 12 meses. No acumulado do ano, porém, está abaixo do bimestre inicial de 2013.
Sinal amarelo
Queda na venda de carros no Brasil obriga fábricas a diminuírem produção
Estoque reforçado leva pelo menos 11 fabricantes no país a adotar medidas para equilibrar oferta
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