Anda mais azeda a relação do empresariado com o governo Dilma Rousseff. Depois de três anos com crescimento abaixo do esperado e diante de perspectivas pouco animadoras para 2014, a lua de mel do setor produtivo com o Palácio do Planalto se transformou em uma crise tão estridente que levou a presidente a ordenar ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que se reunisse com alguns dos maiores empresários do país na semana passada para uma espécie de sessão DR, para discutir a relação.
A lista de reclamações é extensa. Passa pela percepção de falta de sinais claros do governo sobre qual é a política de desenvolvimento e de medidas para melhorar a competitividade, além de atraso em ações estratégicas. Eduardo Logemann, 63 anos, presidente do Grupo SLC, é um dos empresários que já começam a expressar desconforto, como relatou a ZH.
Bolados com Dilma: empresários querem discutir a relação com a presidente
"O Brasil é um dos países mais caros do mundo. Quem viaja para o Exterior sabe que um par de meias, um televisor, um automóvel, uma refeição, tudo custa aqui de três a quatro vezes mais".
Cipoal tributário
À frente de um conglomerado que tem como principal controlada a SLC Agrícola, uma das maiores produtoras de grãos e fibras do país, o gaúcho Eduardo
Logemann crava a raiz da insatisfação do setor produtivo na oportunidade perdida de simplificar o cipoal tributário e construir uma infraestrutura mais eficiente no período de bonança. A mudança do cenário global escancarou as duas deficiências.
Comércio externo
Enquanto outros países avançam em acordos comerciais com grandes mercados como EUA, União Europeia e China, o Brasil tem dado prioridade a negociações com os países mais pobres da América Latina e da África, reclama Logemann:
- Nada contra esses países. Mas se faz aliança com quem quer importar nossos produtos. Depois com países como Moçambique, Angola e África do Sul.
Sinais confusos
O positivo pacote de concessão de rodovias e ferrovias lançado há dois anos foi minado por desconfiança após a tentativa de limitar o lucro das vencedoras das licitações. Com isso, houve pouco avanço:
- A interferência do governo para dizer como as empresas têm de se comportar nas licitações é danosa. Na concorrência, vai ganhar sempre o menor preço. Quando o governo interfere, custa mais.
Erros na política econômica
A redução do juro foi apressada e o controle da inflação, negligenciado, diz Logemann. Com o custo para produzir maior, a ascensão social de cerca de 30 milhões de brasileiros e o consumo aumentaram a venda de produtos importados, freando investimentos.