Anda mais azeda a relação do empresariado com o governo Dilma Rousseff. Depois de três anos com crescimento abaixo do esperado e diante de perspectivas pouco animadoras para 2014, a lua de mel do setor produtivo com o Palácio do Planalto se transformou em uma crise tão estridente que levou a presidente a ordenar ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que se reunisse com alguns dos maiores empresários do país na semana passada para uma espécie de sessão DR, para discutir a relação.
A lista de reclamações é extensa. Passa pela percepção de falta de sinais claros do governo sobre qual é a política de desenvolvimento e de medidas para melhorar a competitividade, além de atraso em ações estratégicas. Flávio Rocha, 56 anos, presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) e da Lojas Riachuelo, é um dos empresários que já começam a expressar desconforto, como relatou a ZH.
Bolados com Dilma: empresários querem discutir a relação com a presidente
"O que mudou é a ideologia, que parecia uma página virada. O próprio Lula tranquilizou os brasileiros sobre dois valores fundamentais: a democracia e o livre mercado. E ele fez um grande governo, se reelegeu e fez a sucessora"
Sinais de retrocesso
Beneficiado pelo aumento da renda, do emprego e do crédito, o varejo acumula anos de desempenho robusto, nem de longe lembrando as aflições da indústria. Mas há preocupação na análise do empresário Flavio Rocha sobre o crescimento sustentado do Brasil. Sinais de retrocesso emitidos pelo governo estariam minando a confiança de quem investe.
Aumento do custo de produção
Uma das principais razões da desconfiança é a constatação de que o país teve uma "vertiginosa queda na competitividade", com o aumento no custo de produção. A indústria nacional não consegue concorrer no mercado internacional e perde espaço no próprio quintal para os importados.
- O varejo consegue lidar com o custo porque a competição se dá aqui dentro. Mas a indústria sofre.
Combater a burocracia
Sem redução do gasto público, não haverá espaço para diminuir a carga fiscal, adverte. O passo seguinte seria diminuir a sobreposição regulatória de órgãos sobre o setor produtivo, que gera burocracia.
- O ambiente econômico se torna hostil e desestimula o investimento. Isso deságua nos preços.
Remédio certo, dose pequena
O empresário vê boa vontade nas concessões de rodovias, ferrovias e aeroportos, desoneração da folha de pagamento de setores da indústria, redução da tarifa de energia e retirada de impostos da certa básica, mas considera as medidas tímidas.
- Só terão efeito real se estiver em sintonia com a questão fiscal. Com os gastos da União crescendo 15% ao ano, não sobra espaço para a desoneração.