Anda mais azeda a relação do empresariado com o governo Dilma Rousseff. Depois de três anos com crescimento abaixo do esperado e diante de perspectivas pouco animadoras para 2014, a lua de mel do setor produtivo com o Palácio do Planalto se transformou em uma crise tão estridente que levou a presidente a ordenar ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que se reunisse com alguns dos maiores empresários do país na semana passada para uma espécie de sessão DR, para discutir a relação.
A lista de reclamações é extensa. Passa pela percepção de falta de sinais claros do governo sobre qual é a política de desenvolvimento e de medidas para melhorar a competitividade, além de atraso em ações estratégicas. José Ricardo Roriz Coelho, 55 anos, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) é um dos empresários que já começam a expressar desconforto, como relatou a ZH.
Bolados com Dilma: empresários querem discutir a relação com a presidente
"Não há problema de oferta, e sim de falta de oferta a preços competitivos. As empresas têm capacidade ociosa. Outro ponto na equação é a baixa produtividade da mão de obra, fruto da falta de qualificação"
Indústria menos competitiva
No comando do departamento da Fiesp que trata da questão mais sensível para a indústria hoje, José Ricardo Roriz Coelho entende que o quadro atual tem origem na valorização do real. E desembocou na perda de competitividade. Pesquisa da Fiesp mostra que o custo de produção no Brasil está, em média, 34,2% maior na comparação com o grupo de 15 países que mais compram produtos nacionais.
- Com isso, não conseguimos exportar, e o nosso mercado interno fica vulnerável - ressalta.
Real muito valorizado
A reboque da dificuldade cambial, o Brasil está mergulhado em baixo crescimento desde 2011, e todos os custos para produzir aumentaram:
- O custo de produção cresceu muito mais no Brasil do que nos concorrentes. A indústria não investe para elevar a capacidade, mas para se defender das importações.
Mais dúvidas para 2014
Embora a indústria comemore a reação do dólar, outros sinais alimentam o pessimismo. Entre esses pontos, o aceno de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai reduzir empréstimos, o aumento do juro em linhas como o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), o fim do Reintegra em dezembro (incentivo à exportação) e a lentidão dos projetos de infraestrutura.
Inflação é de custo
Boa parte da inflação é de custos, não por aumento do consumo, afirma Roriz. Como a produção da indústria é onerada por mão de obra e logística deficiente, os empresários repassam aumentos aos preços.