O ministro da Fazenda deu uma parada em suas férias e voltou a Brasília para anunciar o resultado de um dos pilares da política econômica - o chamado superávit primário, economia que o governo faz para pagar os juros da dívida pública. Guido Mantega justificou a antecipação do anúncio, geralmente feito no final do mês, dos R$ 75 bilhões, R$ 2 bilhões acima do previsto, como uma forma de acalmar os "nervosinhos". Os nervosinhos, explica-se, é o chamado senhor mercado, aquele mesmo que olha com lupa os números do governo e que, nos últimos tempos, tem se mostrado extremamente desconfortável e reticente com o andamento das contas públicas.
Se vai acalmar ou não, a probabilidade é muito mais vencer a última tese diante dos resultados pouco satisfatórios das contas totais da União. Bom mesmo, para o governo, claro, só a arrecadação, que, apesar da fraca velocidade da economia, continua crescendo. Em dezembro, por exemplo, foi recorde e fechou em quase R$ 116 bilhões. Ou seja, o aperto do Leão é cada vez maior.
O objetivo do superávit primário é manter o endividamento público sob controle ao mesmo tempo que limita o crescimento dos gastos do Executivo, diminuindo a pressão sobre a inflação. Com uma economia maior, a Fazenda ajuda o Banco Central a conter a alta dos preços, ainda acima da meta estipulada.
Por diversos prismas, pode-se ler o resultado desta sexta-feira. Um deles é o fato de que se constitui em um dos principais termômetros avaliados pelos investidores estrangeiros para medir a capacidade de um país pagar os credores em dia. Outro: o superávit elevado significa, porém, menos dinheiro para investir, pois o caixa do governo tem recursos controlados para aplicar em obras de infraestrutura, por exemplo. Quanto maior o superávit, maior o corte nos gastos públicos ou maior a arrecadação de impostos. Ou seja, o governo "aperta o cinto" para que sobre mais dinheiro para quitar os débitos com o mercado ou aumenta suas receitas com a cobrança de tributos.
Mas o superávit mantém a credibilidade econômica do país no Exterior. Outro detalhe importante sobre manter as contas do governo positivas é que não haja aumento da dívida do setor público. Ao mesmo tempo, um resultado favorável contribui para a chegada de investimentos estrangeiros no país, já que as contas estão em dia. Ou seja, mais investimentos no Brasil podem significar mais postos de trabalho, reduzindo, assim, o já baixo desemprego. A renda do trabalhador também pode aumentar, já que o capital aplicado aqui cresce.