A previsão de reajuste nas alíquotas do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) tem sido usado como argumento, por vendedores de automóveis, para incentivar os consumidores a comprar carros antes da virada do ano. Em muitos casos, o que não é informado é que a nova alíquota será aplicada na nota da fábrica e que, portanto, veículos comprados em 2013 pelas concessionárias - e estocados nas lojas - não sofrerão aumento. Esses veículos estocados também não são obrigados a se adequar à lei que obriga a instalação de freios ABS e air bags.
- Estocamos 990 carros. Falta até espaço para estacioná-los. Com isso, conseguiremos manter em R$ 23 mil o preço de veículos que passarão a custar R$ 27 mil - diz Mário Celso de Araújo, gerente comercial de um grupo responsável por duas concessionárias Volkswagen em Brasília.
Segundo ele, a expectativa é que o estoque dure cerca de 45 dias. O grupo vende 500 automóveis por mês. Em dezembro foram registradas cerca de 600 vendas. Mas esse crescimento, diz ele, costuma ocorrer independentemente do aumento do IPI.
Neste ano, a estratégia de fazer estoque foi adotada porque, além do IPI, há previsão de aumento no preço de fábrica.
- Estimamos aumentos entre 2,4% e 3,3% no preço final, fora o aumento de R$ 1,5 mil, decorrente da obrigação de os automóveis saírem de fábrica com air bags e freios ABS.
O medo desses aumentos acaba apressando consumidores como o vigilante João Lopes.
- Estou procurando um carro popular, porque o ônibus que uso para trabalhar é muito problemático. Há algum tempo venho juntando dinheiro para fazer a compra. Mas se o preço aumentar, não terei condições - considera.
O problema é que nem sempre os consumidores são informados de que o aumento não será tão imediato, nos casos em que há estoque. É o caso do motorista Delmo Souza Silva.
- Eu não sabia que o aumento do IPI pode não ser aplicado nos carros do estoque. Nas quatro concessionárias que visitei, disseram que o preço aumentará em janeiro. Nenhuma disse que o IPI não vai incidir sobre carros estocados. Dizem apenas que se não comprar até o final do ano terei de pagar mais. Dessa forma, eles acabam perdendo nossa confiança - critica.
Gerente de vendas de uma concessionária Nissan, Cristiano Lennon diz que até o momento a loja não tem sentido tanto o impacto do IPI.
- Em parte por ainda termos carros no estoque, para cerca de três meses - justifica.
Segundo ele, nem todas as lojas informam que a alíquota não incide sobre veículos já adquiridos junto às fábricas.
- É claro que há vendedores que acabam usando o argumento do IPI para estimular os consumidores a fazerem a compra de imediato. Mas isso implica, posteriormente, em falta de credibilidade, o que não é desejado pelas concessionárias que pretendem ter a fidelidade dos clientes - pondera.
A poucos metros dali, em uma concessionária Fiat, o vendedor Rogério Henrique disse que seu estoque estava com apenas 40% da capacidade. O ano, segundo ele, não foi tão bom.
- Mas melhorou nas duas últimas semanas. No começo do ano, eu vendia em média três carros por semana. Agora vendo pelo menos cinco. Acho que a previsão de aumento do IPI é o que mais está favorecendo isso - diz.
Já o gerente de vendas de uma concessionária JAC, Mauro Silveira, diz que sua empresa trabalha "com pouco estoque", e que, portanto, o aumento deverá ser repassado já no dia 2 de janeiro.
- As vendas foram mais sentidas apenas na última quinzena, com um aumento próximo a 20% (na saída de veículos) - diz.
Além disso, há a previsão de um reajuste acumulado no preço de fábrica, de aproximadamente R$ 1 mil, em média, por carro.
Estão previstos dois aumentos de IPI. Um para janeiro e outro para a partir de julho. Para evitar o segundo aumento, o diplomata Daniel Lopes planeja comprar dois carros em março, quando voltará ao país. Um para ele e outro para a esposa, Flávia Guilarducci. Atualmente, o casal mora na Holanda.
- Por mim, eu nem usaria carro para ir ao trabalho. No exterior não há necessidade de usar porque o transporte público tem excelente qualidade e há infraestrutura para usarmos bicicleta. Isso não ocorre no Brasil.
Pensamento similar tem o militar Edinaldo Araújo.
- Troco de carro a cada três ou quatro anos. Não dá para usar ônibus porque temos um dos piores transportes públicos do país. Se fosse de boa qualidade eu deixaria, sem a menor dúvida, o carro em casa. Mas não dá para confiar em um ônibus que não chega e que, quando chega, te deixa na metade do caminho - diz.
O militar calcula uma economia de aproximadamente R$ 2 mil, caso feche o negócio antes de o aumento do IPI e das fábricas ser repassado ao preço final.
Sem se importar com o aumento previsto, o economiário Alexis Rodrigues diz considerar que a variação prevista "é pequena e pode ser diluída nas prestações", disse ele enquanto analisava os carros expostos na concessionária.
- Ainda estou na dúvida se compro agora ou não. Não tenho pressa porque minha ideia é comprar até março, quando vence a garantia do meu carro atual - justifica.