Empresa de origem familiar, mas com gestão profissional. Essa é hoje a Xalingo SA Indústria e Comércio, fundada em 1947, em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, para suprir o mercado escolar, com produtos manufaturados de madeira. Ao longo dos anos, a brincadeira iniciada pelos irmãos Xavier e Lindolfo Braunger correu riscos. Ao completar 65 anos neste ano, a empresa garante a posição de líder gaúcha e está entre as sete maiores do país em produtos pedagógicos e de lazer para crianças.
Chegar a essa idade exigiu vencer vários desafios. O mais difícil foi o começo da década de 1990, período de abertura do mercado brasileiro sem política industrial definida e de redução da inflação.
- Fomos pegos de surpresa. Não estávamos prontos para a invasão dos importados, especialmente os da China - lembra o diretor administrativo financeiro, Flávio Haas.
Na época, a Xalingo entrou em crise, perdendo mais da metade do mercado de brinquedos. Para que a empresa sobrevivesse, Haas aponta dois fatores fundamentais:
- Credibilidade e eficiência. Com essas duas qualidades, conseguimos manter nossos clientes e consumidores. Mas foi preciso investir na reestruturação da empresa.
O que era um inimigo foi transformado em aliado. Hoje a Xalingo exporta 3% da produção para 17 países e importa 15% dos itens da China. A compra de artigos chineses possibilita a inclusão de produtos novos no catálogo e ainda permite à empresa testar produtos. Conforme a receptividade do consumidor, a Xalingo decide pela fabricação própria.
Também na época da invasão chinesa, o Brasil viveu uma brutal queda da inflação. Isso permitiu, depois de muitos anos, que o consumidor tivesse parâmetro de preços e pudesse exercitar uma prática hoje muito comum: a comparação de preços. Com isso, foi necessário que a Xalingo modernizasse o parque industrial para garantir produtos competitivos no mercado.
Atualmente, entre os mais de 650 itens ligados ao mundo infantil, a empresa se destaca com triciclos, rodados, playground, jogos e brinquedos, material escolar, esporte e lazer. E um diferencial da empresa que exige investimento, segundo o diretor de operações, é o licenciamento de produtos.
A Xalingo usa em seus produtos personagens da Disney, da Turma da Mônica e da Moranguinho, entre outros. A partir do próximo ano, a empresa conseguiu autorização da Globo Marcas para agregar o mascote da Copa do Mundo de 2014, o Fuleco, nos produtos voltados ao esporte e lazer.
- Isso nos favorece em relação ao consumidor, que se identifica com as marcas. E nos orgulhamos de fazer isso legalmente e com transparência - diz João Carlos Ebert.
A primeira expansão da fábrica ocorreu em 1961. A adesão de um novo sócio, Ingo Ebert, dois anos antes levou à mudança do nome. A então Xavier e Braunger e Cia Ltda tornou-se Xalingo, unindo parte dos nomes de cada um dos três sócios - Xavier, Lindolfo e Ingo.
Em 1967, com a aquisição da primeira máquina injetora, a empresa passou a trabalhar com itens de plástico.
- Temos orgulho de ser uma empresa familiar. No entanto, entendemos que é preciso profissionalismo na gestão. Quem permanece na empresa é porque tem capacidade - justifica João Carlos Ebert, filho de um dos sócios fundadores e atual diretor de operações da Xalingo.
Desde 1998, os diretores identificaram um mercado promissor e criaram a Xalingo Soluções, focada em clientes da área agrícola. Atualmente, a linha de agronegócio conta com mais de 350 produtos.
Uma das dificuldades da empresa de Santa Cruz do Sul é a distância do maior mercado consumidor, São Paulo. Mas os 1,3 mil quilômetros que separam da capital paulista são superados com agilidade na produção. É de três dias, em média, o tempo entre a formalização e o atendimento do pedido do cliente. Algo considerado difícil e satisfatório pelo mercado, segundo Ebert e Haas, o que possibilita competir com fábricas paulistas. Mas a Xalingo tem planos de instalar um centro de distribuição em São Paulo - para ganhar tempo e dinheiro.
A estimativa da empresa é de que de 4% a 5% do faturamento anual seja usado em investimentos. A regra foi superada nos dois últimos anos, quando foram comprados pavilhões desativados de uma fumageira por cerca de
R$ 16 milhões, com apoio do Fundo de Operação Empresa (Fundopem) do governo do Estado.
- No mercado de brinquedos, em constante evolução, um dos quesitos básicos é a inovação - resume o diretor Flávio Haas.
Perfil
> A empresa produz cerca de 650 produtos pedagógicos e de lazer, focados no mundo infantil, e outros 350 voltados ao agronegócio.
> Neste ano, deve faturar R$ 90 milhões, cerca de 7% a mais do que no ano passado, quando obteve receita de R$ 84 milhões.
> Sede e parque industrial ficam em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo.
> Tem cerca de 380 funcionários fixos, mas chega a 560 colaboradores entre junho e novembro, época considerada como safra do setor de brinquedos.